A água de consumo doméstico, o IMI e a falência técnica da câmara Herança e perspectiva

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Nunca é demais falar, oportuna e inoportunamente, a tempo e a contratempo. O tema está presente todos os dias, embora mais impactante quando chegam as contas para pagar no final de cada mês.

Relativamente aos novos aumentos do preço da água de consumo doméstico, das taxas e das taxinhas inerentes que elevam o valor da fatura para valores exagerados, ouvimos as mais diversas queixas diariamente. Sim, toda a gente se queixa e não compreende. Sim, o nível de higiene baixou, um distintivo negativo da medida que tem levado muita gente a gerir o seu banho que era diário e agora passou, para uns a semanal e outros a mensal. E aqui está um bom exemplo da qualidade de vida, que o viver neste concelho nos impõe. Quem puder abra um poço, embora não se livre do pagamento e taxas do consumo mínimo, poupa muito dinheiro e pode cuidar muito melhor da sua higiene e das suas amadas flores.

Mas este foi o primeiro impacto! Teve o seu início em Janeiro, lembram-se? As pessoas deste concelho de ricos onde vivemos, em que a tanga se faz passar por aparência – não é real, é presunção –  ainda não estão refeitas deste primeiro impacto na sua economia, mas com o calor que se adivinha e aquela alegria do verão vão-se recompor- se. Vêm as férias, o sol quente adormece e as pequenas ondas de uma bela e amena enseada embala com a sua música. Depois, as festas barulhentas entontecem. Maravilhoso! Pois é, mas é nessa altura quando todos estivermos entretidos que, sorrateiramente, nos vai surpreender o segundo impacto do preço da água de consumo doméstico. Estou a falar a sério, isto não é um boato. E volto a repetir. Quando se acenderem as luzes coloridas de Natal com a sua magia a convocar para a fraternidade universal, lá aparecerá o novo tarifário, mais um aumentozinho acertivo. Para onde caminhamos no concelho de Caminha? Embarcamos num barco prestes a afundar-se, e o pior é que não afunda de vez. Mas continuamos pacientes, nem nos manifestamos todos juntos. Juntos calamos e aguentamos. Só falamos aqui e ali, quando uns e outros nos encontramos isoladamente. Por menos noutros concelhos a tampa já tinha ido pelos ares. Aqui calamos e aguentamos. Boa viagem!

E, ainda às vezes, perante isto aparece de quando em vez uma espécie residual a defender que os aumentos servem para gerir melhor os recursos que cada vez são mais escassos. Um oba, é o que é! Aqui no norte de Portugal, quando não houver água, a sul já ninguém sobreviverá. Felizmente aqui, no norte, temos o melhor dos climas, os mais regulares: ora chove abundantemente que até chateia, ora faz frio e por isso temos a pele mais tensa e resistente, ora faz um calor tropical como neste momento em que escrevo. E, quanto à justificação do aumento dos preços ajudarem a gerir melhor este recurso vital, é uma panaceia. Há limites em que o ser humano tem de fazer de tudo e aguentar, mas cuidar minimamente da higiene doméstica e física. Sim, o consumo obrigatoriamente tem de baixar e aqui, nesta região, não devia acontecer, nem se justifica isso pelas razões acima apontadas, mas ninguém diz que é maior o volume de água que se perde nas tubagens do sistema do que aquele que se consome. E quem nos garante, que o mau negócio feito vai ao menos acabar com o enorme desperdício de água  do sistema em alta e em baixa, e baixar os preços do consumo doméstico? Claro, ninguém! A ganância do lucro para engordar a empresa monopolista que o estado está há uns anos a preparar para vender ao capital privado, a Águas de Portugal e os seus gestores ávidos de dinheiro, nunca o irá permitir. O monopólio da água vai acontecer, depois de acabarem as chafarricas todas do país que dão pelos mais variados nomes. A nossa acho que, depois de ter tomado outros nomes, agora chama-se Águas do Noroeste. Mas não é nossa, nem o será nunca. Será das Águas de Portugal. Esta sim, congregará todos os retalhos e, então, entrará o grande capital. Talvez os chineses! E como nos venderá o produto, e em que estado de qualidade? Se já há muito nos vendem arroz contaminado pela excessiva poluição das suas indústrias na China e toda aquela miscelânea de produtos de imitação sem qualquer qualidade, imagine-se! Temo pelos meus netos.  

Agora a questão do IMI, no mesmo alinhamento da água e no mesmo concelho de Caminha que o taxa pelo valor máximo. Essa, como diz um amigo meu, nem em “tabaredo”. Não me perguntem, não sei onde fica isso! Eu é que fico perplexo com isto, é que parece mesmo que vivemos num concelho rico, a abarrotar de dinheiro. E lá segue a tanga disfarçada de riqueza. Quem quer vir viver para aqui já fica a saber, somos um concelho rico, a tanga é apenas um aforismo, um disfarce espécie de bombo da festa para animar a malta. E para aqueles como eu se entreterem a animar o pagode que não acredita no que venho há muito a dizer.

O mal de tudo isto, foi a gestão incompetente dos vários executivos municipais pelas suas erradas opções e projetos. Foi essa a nossa pouca sorte. Embalaram-nos com promessas de progresso e trabalho para todos. Mas a atração do investimento é nula. Aqui, não investe ninguém, nem privado nem público. Com a câmara em falência técnica, é uma miragem sonhar sequer com trabalho para todos neste concelho. É uma miragem permanecer aqui para trabalhar. É bom, todavia, viver aqui, mas é pela perspetiva paisagística, por este mar, rios,  vales e montes verdes. É bom pela beleza das ondas e de um ribeiro correndo por entre vérgeis e estreitas margens. É bom pelos silêncios de certos lugares. É, ainda, bom por nos sentirmos acolhidos neste cantinho de paraíso. O resto é para esquecer se não vivemos atormentados. Alimentemo-nos só das coisas bonitas deste cantinho. Elas nos ajudam a suportar a miséria a que nos conduzem. Mais uma vez temo pelos meus netos. Quando tiverem asas que voem daqui e só voltem para matar saudades do nosso encantador cantinho, esquecidos do que por aqui se passa e que é de estarrecer.

Não culpo individualmente nenhum dos gestores do concelho de Caminha. Culpo-os a todos por igual por não saberem mais, por não conseguirem mais e melhor para o concelho de Caminha, uns por ignorância, outros por irresponsabilidade, outros por romantismo, outros por loquacidade inconsequente. Não foi um fatalismo, foi por tudo isso. Gerir a coisa pública exige noites sem dormir, correr sem parar, cair e continuar a correr pelo bem comum. Esquecer-se de si mesmo pelo amor à comunidade que merece o melhor.

Relativamente às perspetivas, aquelas que possam inverter o rumo, acho-as sombrias. Com recurso à perda de património para saldar dívidas que, afinal, não acabam, que perspetivas? Prometo que não vou adormecer, nem no calor do verão, nem no frio, nem na chuva, nem no vento, nem nos matizes do pôr do sol, nem nos encantos do nosso cantinho. Estarei desperto para dizer não, como para dizer sim, para repudiar e para louvar. E votarei sempre, até em branco, mas votarei.

Este jornal vai deixar de ser impresso. Vai passar a digital. Considero a decisão uma perda. Mais uma para a nossa terra. Vai entrar na via do descartável. Os seus impactos serão imediatos e esquecidos do mesmo modo. Não o vamos mais folhear. Isto vai fazer-me refletir. Tomarei, certamente, uma decisão relativamente à minha decisão. Mas não vou ficar calado nem em silêncio.

Quero dizer aos meus leitores, que os respeito e que eles estão no meu coração. Dos mais fiéis aos esporádicos, dos críticos porque me leram. Para todos aquele abraço!