A ditadura portuguesa também viria a ter o seu fim com a “Revolução dos Cravos”, em vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro, na qual as Forças Armadas e o Povo saíram à rua para abater um regime desumano: quer para os cidadãos Portugueses; quer para os povos colonizados, muito embora nos territórios ocupados se tenha verificado um grande desenvolvimento, porém, sem os valores da democracia: liberdade em todas as suas vertentes; solidariedade, igualdade, fraternidade, entre outros.
É claro que a “Revolução dos Cravos” não foi apenas de “flores”, também houve alguns “espinhos”, principalmente para os cerca de meio milhão de Portugueses que tiveram de abandonar, à pressa, as então colónias: a maior parte dos quais, perdendo tudo o que tinham conseguido, ao longo de uma vida de trabalho, de sacrifícios, de riscos; outros, inclusivamente, incentivados pelo governo ditatorial, venderam os seus bens em Portugal continental, para investirem nos territórios ultramarinos.
A descolonização que se seguiu à “Revolução dos Cravos”, com a justa independência dos territórios ocupados, não protegeu com firmeza a integridade física, nem acautelou com determinação, os bens materiais imóveis e financeiros dos empresários e colonos Portugueses, pese, embora, o esforço realizado com as “pontes aéreas” para transportar, em segurança, para a então denominada “metrópole”, os milhares de Portugueses que, em certos círculos, foram apelidados, pejorativamente, de “Retornados”, adjetivação que nunca foi utilizada, por exemplo, em relação aos restantes Portugueses emigrados, quando regressavam definitivamente a Portugal.
Centenas de jovens, muitos colonos e autóctones, que desejavam continuar a ser Portugueses, morreram vítimas de uma guerra sem sentido, cujos corpos foram enterrados em “cemitérios” improvisados, no meio do mato, abandonados às ervas daninhas e animais selvagens, sem o mínimo de respeito pela dignidade da pessoa humana, independentemente da sua etnia, convicção política, religiosa e cultural.
É claro que o espírito e capacidade de adaptação dos Portugueses acabaram por resolver este drama da descolonização. O Estado-Governo que se seguiu à “Revolução dos Cravos”, enquadrou e integrou nos seus quadros, milhares de funcionários, assim como as grandes empresas e bancos, entre outras. Resta, passados quarenta e seis anos, indemnizar os Portugueses que perderam os seus bens: imobiliários, financeiros, empresariais e empregos.
Apesar de todas as dificuldades, Portugal pode orgulhar-se da sua “Revolução dos Cravos”, da implementação de um regime democrático com amplos direitos, liberdades e garantias, que, ainda hoje, faz inveja a muitos outros países. Não há dúvida que somos um “povo de brandos costumes”, pacífico, hospitaleiro e humanista, um povo resiliente, sem dúvida nenhuma.
A “Revolução dos Cravos” proporcionou aos Portugueses uma vida nova, com esperança num futuro de desenvolvimento, emprego e justiça social, porque Democracia é isto mesmo: igualdade de oportunidades, redistribuição justa da riqueza nacional, cuidar de todos os cidadãos de igual modo, sem discriminações negativas, nem marginalização dos mais fracos.
A “Revolução dos Cravos”, ainda não terminou todos os projetos então prometidos, mas possibilitou retirar o país do isolamento internacional, em que já se encontrava. Abriu as portas para a integração na União Europeia, com todos os deveres e direitos que tal implica, reconhecendo-se, hoje, primeiro quarto do século XXI, que valeu a pena correr os riscos que uma revolução provoca, para aqueles que nela se envolvem.
Naturalmente que é justo e sempre pertinente, que se faça um rasgado elogio às Forças Armadas Portuguesas e ao Povo, porque sem a conjugação das sinergias, talvez a “Revolução dos Cravos” se tornasse num banho de sangue. O sentido patriótico, e de Estado, dos nossos militares, foi, é e, seguramente, continuará a ser, uma garantia de estabilidade democrática para Portugal.
Com o protesto da minha perene GRATIDÃO
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo