
Estreio-me no Terra e Mar – cujo título, pessoalmente, creio transmitir serenidade – num mundo em ebulição. Sou a Inês, natural de Moledo do Minho – o que significa que, desde bem cedo, cresci entre mar e montanhas que me ensinaram que somos, verdadeiramente, matéria iluminada num Mundo demasiado extenso em beleza e recursos.
Estudei Jornalismo mas, como perceberão nesta crónica, coloquei a área de parte por sentir que os meus pensamentos são demasiado livres para que tivesse, por vezes, de me cingir ao que pensamentos superiores me exigissem relatar. A realidade é intransmissível e inalterável – pelo menos para quem a experiência em primeira mão – e relato-a acreditando que as minhas convicções e opiniões podem acrescentar pistas às equações mais indecifráveis.

Continuando as apresentações, acrescento que sou consultora de comunicação no Banco Mundial, mas que tudo o que aqui partilharei será a título individual e pessoal. Sou apaixonada pela arte de comunicar, por letras, por traços – acredito que uma mensagem deve ser passada da forma mais clara e criativa possível para gerar emoções, provocar desconforto e gerar mudanças. Gosto de questões quotidianas e é, por isso mesmo, que numa base diária, comunico as alterações climáticas promovendo o poder que a futura geração representa num globo ferido. Tenho a mente e o coração entre Moledo e Washington DC e sou bem sonhadora de pés assentes no chão que piso: em tempos de pandemia, sabemos que vivemos doentes.
Há, verdadeiramente, algo de alucinante no que se tem vindo a vivenciar desde os primórdios de 2020 (sim, quem me dera que esta frase correspondesse a uma narrativa futura com toque lendário). Percebemos que entre abraços de afeto se podem carregar espinhos – e fechamo-nos nas nossas carapaças sujeitos às coreografias dos nossos pensamentos. Vivemos num globo ferido – que se auto-medicou corretamente durante a nossa ausência, mas que volta a ter os seus lanhos a céu aberto. Assistimos à (des)liderança e creio que alguns terão sentido só poder contar com a sua própria sabedoria e bom senso. Mas faltou-nos o ar em praça pública.
A realidade é que, demasiado focados na saída da carapaça, voltamos a esquecer que há uma manutenção a fazer – é preciso regar as plantas, porque nem sempre a chuva chega.
Às vezes, o Mundo é um lugar estranho para viver. E muitas vezes é preciso fechar os olhos e reinventar. Se há uns meses me dissessem que estaríamos neste lugar, não acreditaria. Mas se há um propósito a buscar, creio que a ação global por uma casa melhor, pode trazer mudanças positivas. De momento é preciso evitar mais feridas: curar as existentes, encontrar curadores coerentes, investir no sol, na água, no vento. A força motriz dos nossos dias. Promover o movimento e caminhar no sentido certo: porque conhecemos tecnologia suficiente para transpor fronteiras; porque somos feitos da mesma pele e carne.
Juntos, possivelmente, chegaremos sempre mais tarde. Mas chegaremos mais longe, mais unidos, mais conscientes. Inevitavelmente, a experiência é conhecimento.

Inês Silva Araújo