Alavancas da Motivação

Opinião de Diamantino Bártolo
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O mundo do trabalho encontra-se em profunda transformação, a vários títulos, com objetivos bem determinados e alterações significativas nos valores que são adotados pelas Instituições empregadoras. Tradicionalmente tem-se atribuído grande importância ao perfil intelectual e à formação académica, a esta se associando o prestígio da Escola onde se obteve uma determinada formação.

Importante para a obtenção de trabalho/emprego era o Curriculum Vitae com referência às escolas de renome nacional e/ou internacional frequentadas, indicação de testes psicométricos com altas percentagens de QI (Quoeficiente de Inteligência).

Outra mudança de relevo, do paradigma até agora vigente, verifica-se no facto de em vez de se dar mais importância às características do cargo, ou do trabalho, passou-se a dar mais destaque às características das pessoas que fazem bem o trabalho.

Nesse sentido: «Precisam estar atentos para esta nova realidade os profissionais que actuam em administração de recursos humanos, os gestores de pessoas (gerentes, chefes, supervisores) assim como quem orienta carreiras profissionais e ainda, e de modo especial, os próprios profissionais que cogitam de planejar ou rever suas carreiras.» (RESENDE, 2000:16).

Uma das principais teorias da motivação humana, elaborada por Abraham Maslow, é construída na lei da necessidade, cujo percurso se pode indicar a partir das necessidades ou carências, ações, objetivo/satisfação das necessidades. As pessoas procuram, sempre que podem, satisfizer uma ou mais das necessidades fisiológicas, segurança, sociais, estima ou afeto e realização. Pelo atendimento às necessidades, as pessoas procuram: saúde, conforto, manifestação dos seus anseios e sentimentos, progredir na vida, prosperidade, poder, sabedoria, paz e felicidade.

Quaisquer que sejam as atividades profissionais, as disciplinas que as estruturam, os meios que se utilizam e as técnicas implementadas, o objetivo fundamental é atingir-se um resultado, expresso numa quantidade, com qualidade, num contexto de crescente competitividade.

Hoje, primeiro quarto do século XXI, tanto ou mais do que academismos, teorizações, ilustração, exige-se uma valência que vem aumentando de importância e se torna indispensável às organizações públicas e privadas, independentemente da área de intervenção e atividade desenvolvida, sendo referida como requisito essencial, na maioria das ofertas de emprego: COMPETÊNCIA.

A necessidade, determinação, imposição ou urgência de se alcançarem objetivos: materiais, morais, políticos, religiosos, éticos e quaisquer outros, em todas as atividades, sugerem uma atitude cada vez mais pragmática, no sentido de se ser prático, concreto, determinado.

O avanço da ciência, da tecnologia e da globalização, que em muitos setores profissionais, e no domínio da economia já se verificam, impõe comportamentos de rigor, de produtividade, de concorrência, de flexibilidade, de mobilidade, e, mais recentemente, de “flexigurança”. Para vencer este surto desenvolvimentista, pessoas, organizações e sistemas têm de ser competentes.

COMPETÊNCIA – Vários são os conceitos de competência como por exemplo: «Capacidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa»; «Atributos pessoais que distinguem pessoas de altas performances de outras, num mesmo trabalho»; «Pessoas competentes são aquelas que obtêm resultados no trabalho, nos empreendimentos, utilizando conhecimentos e habilidades adequados». Em síntese, pode-se aceitar uma conceptualização mais alargada e enriquecedora: «Competência é a transformação de conhecimentos, aptidões, habilidades, interesse, vontade, etc., em resultados práticos. Ter conhecimentos e experiência e não saber aplicá-los em favor de um objectivo, de uma necessidade, de um compromisso, significa não ser competente, no sentido aqui destacado.» (Ibid.:30-32).

Na mudança de paradigmas em curso, verifica-se que o que ontem era verdade absoluta ou até dogmática, hoje pode não o ser, pelo menos com tanta certeza, ou convicção inabalável, em relação a algumas delas. Têm-se notado profundas e universais mudanças de paradigmas, em todos os domínios, da atividade humana e organizacional: a) Fusão de empresas, antes rivais; b) Unificação de países em grandes blocos económico-políticos; c) Convivência de ideologias económicas opostas – socialismo-capitalismo; d) Evolução do amadorismo para o profissionalismo; e) Mudanças nas características e relações de trabalho.

Justifica-se, agora, a valorização da competência que terá profunda influência nos destinos das organizações, nas carreiras das pessoas e, neste contexto, o conceito paradigmático de competência assume uma nova dimensão e significado: a) A competência será mais prestigiada do que a erudição; b) A competência será o atributo mais importante das pessoas; c) As referências mais importantes para a remuneração ou promoção das pessoas nas organizações não serão mais tempo de casa (antiguidade) ou escolaridade, mas sim competências e habilidades; d) As expressões: competência emocional, competência espiritual e competência de cidadania, por exemplo, são novas formas de ver e conceituar estas maneiras de ser, manifestar e agir das pessoas, em quaisquer situações da vida em sociedade.

Evidentemente que a formação teórico-académica, ao mais alto nível, não pode ser descurada, bem pelo contrário, as habilitações académicas, a investigação e as tecnologias são imprescindíveis, para melhor se estruturarem e aplicarem racional e eficazmente os conhecimentos, ajudar a criatividade e a inovação e rentabilizar os recursos disponíveis, respetivamente.

O que se pretende transmitir é a ideia de que, de ora em diante, ninguém pode viver o resto da vida rodeado pela auréola de um diploma, de um qualquer curso superior, sem se manter em permanente formação científica e técnica.

Entre as diversas aspirações das pessoas, uma delas é dispor de oportunidades para crescer, desenvolver suas carreiras profissionais e por isso, de um modo muito especial, as pessoas querem saber como e o que precisam fazer para evoluir em suas carreiras.

Por outro lado, também se conhece que as organizações que têm feito um pouco mais e melhor, em favor do planeamento e administração de carreira, são as empresas mais evoluídas em gestão de recursos humanos, ainda que fiquem bastante aquém do que seria desejável, principalmente, porque: a) Teme-se as consequências salariais das carreiras; b) Políticas e critérios frágeis de promoção de pessoal; c) Excesso de paternalismo gerencial; d) Falta de instrumentos mais precisos para avaliação do potencial (competências e habilidades); e) Despreparo dos profissionais da área de Recursos Humanos nessa matéria.

Atualmente as pessoas passam entre oito a dez horas diárias no trabalho e, por essa razão, precisam se empenhar na busca da satisfação através das suas atividades profissionais. Indivíduos, profissionais e empresas precisam desenvolver condições e recursos para saberem identificar e ajustar suas competências às das atividades que desenvolvem, e assim garantirem o sucesso dos seus objetivos de vida e negócio.

Uma boa referência para orientar as pessoas a compatibilizarem os seus interesses e características pessoais às atividades profissionais e empreendimentos é a teoria de “Âncoras de Carreira”, acreditando-se que a maioria das pessoas se poderá enquadrar numa delas, e que, na medida do desenvolvimento do seu autoconceito ou autoconhecimento, elas poderão harmonizar melhor os seus talentos, motivos e valores. Consideram-se por isso as seguintes Âncoras de Carreira: 1) Segurança e estabilidade; 2) Autonomia e Independência; 3) Criatividade e capacidade empreendedora; 4) Competência técnica e profissional; 5. Aptidão ou habilidade administrativa.

Cada vez mais as novas organizações de trabalho nas empresas estão requerendo pessoas multifuncionais, ou polivalentes, que exerçam atividades com uma dimensão mais abrangente e com associação a diferentes especialidades: «O ser humano tem inato o potencial de ser versátil e adaptativo. Com treino e prática, não haverá dificuldade para ser multifuncional. Ainda que se possam estabelecer diferentes graus de polivalência. (…) Porém, mesmo sendo multi-especialistas ou multifuncionais, sempre haverá uma âncora principal que deve ser considerada para que as pessoas se realizem melhor e se satisfaçam mais no trabalho.» (Ibid.:118).

Bibliografia

RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Autoajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark