Amor e Reverência no Trabalho e na Vida

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A cortesia, seja na vida, seja no trabalho, entre outras qualidades que denotam princípios, valores, sentimentos, boa-educação e formação humana, é tão necessária como são as referências, experiências e antiguidade profissionais, por isso: «No novo caldeirão administrativo a reverência é o ingrediente que todo o mundo ama mas não consegue definir. É o adorável molho secreto. É o que dá coração, sabor ao cozido.» (HAWLEY, 1995:63).

Numa empresa que se pretenda civilizada, há valores que não podem ser descurados, sob pena de se cair na situação oposta – Não civilizada -. Pode-se, desde já, defender que o desejável seja um “Continuum de Reverência”, isto é: um clima empresarial envolto em respeito que se entende como sendo: «Consideração para com o outro. Ter estima pelo outro. Admiração. Polidez sincera. Gentileza. Valorização do outro. Pessoas gostando das outras. (…) O respeito também pode se tornar num hábito; se, e quando, finalmente se aprofundar ele se torna em reverência.» (Ibid.:68).

Entre os muitos significados atribuídos ao vocábulo “reverência”, como por exemplo: veneração, homenagem, cortesia, cumprimento, saudação, entre outros, nesta reflexão vamos adotar o conceito que melhor se aplica aos objetivos do trabalho empresarial e, assim sendo: «Reverência consiste em dedicação, animação e entusiasmo. Nela há um respeito profundo e uma admiração profunda. Há dedicação, se não uma verdadeira devoção. Há convicção e seriedade profundas. Estranho? Não. Essas são qualidades de grandes empresas.» (Ibid.:69).

Reverência, assim entendida, constitui o “emblema” das grandes e civilizadas empresas, aquelas organizações que valorizam os seus recursos humanos, como o capital essencial para o bom funcionamento da instituição. As pessoas estão primeiro, e esta filosofia empresarial faz com que elas se entreguem, sem reservas, ao trabalho, à melhoria das suas competências, à própria valorização pessoal, com o objetivo de enobrecer a entidade para a qual trabalham.

Numa empresa polida, civilizada, seguramente que a reverência é o ponto cardeal para o seu sucesso: «Colocando em termos simples: desenvolver uma reverência – nada menos do que isso – para com (a) a missão, (b) os produtos, (c) os clientes e (d) os empregados. Essas grandes empresas levam o compromisso e a dedicação ao nível da devoção. O ponto básico é a reverência.» (Ibid.:70).

Outro “ingrediente” essencial na empresa, e na vida, é o amor, designadamente entre as pessoas que nela trabalham, independentemente das suas funções e nível hierárquico. Obviamente que não se equipara este sentimento na empresa, ao que é sentido e vivido num contexto conjugal, ou de outro nível parental, amigável ou social. Poder-se-ia afirmar tratar-se de um amor no sentido das relações de amizade profissional, de solidariedade, lealdade e companheirismo, no limite, seguindo aquela grande máxima: “Ame a todos, sirva a todos”.

Mas será possível “amar-se” alguém, seja na empresa, na família, na sociedade, em contextos formais e/ou informais, quando nos estão a atraiçoar, a prejudicar a nossa honra, bom-nome, reputação e dignidade? Será possível “amar-se” uma pessoa que nos rejeita, que nos humilha, que não nos respeita, seja um colega ou um superior hierárquico? Será exequível, simultaneamente, “Amar a Deus e ao Diabo”? Reconheça-se que é muito difícil.

E, na verdade: «Se o respeito e a reverência podem ser um modo eficaz de operar um negócio, por que os homens de negócios relutam tanto em reconhecer a legitimidade do amor em suas empresas? Outros profissionais – cientistas sociais, cientistas exatos, médicos, professores e assim por diante – têm essa mesma relutância. Por que as pessoas se intimidam e agem como se o amor, essa ideia maravilhosa e crucial não existisse?» (Ibid.:78).

Este sentimento maravilhoso, quando verdadeiro, vindo de dentro, do nosso espírito puro, seguramente que resolve muitos problemas, no entanto: «Quando direcionado pelos outros, o amor não pode ser amor. É a vontade de outra pessoa imposta em nome de alguma coisa grande, em vez de algo saído de dentro. Esse “amor” é uma forma de violência disfarçado, uma negação disfarçada do outro. Na maioria das vezes é o único tipo que as pessoas conhecem. Esse amor obrigatório é praticamente o único tipo de amor e de sinceridade que as pessoas experimentam.» (Ibid.:81).

Qualquer pessoa não terá dificuldades em defender: quer seja no trabalho, seja na família, seja na vida social, que é necessário encarar a vida com alegria, com entusiasmo, com tranquilidade e amor. Este sentimento, verdadeiramente humano, que “move montanhas”, deve estar presente nos “corações”, que o mesmo é dizer, na consciência individual, porque: «Devemos dar ao amor a mesma atenção que damos a outras coisas hoje em dia; devemos nos aproximar do amor e nos tornarmos melhores na capacidade de amar.» (Ibid.:83).

As pessoas, verdadeiramente enquanto seres humanos, dotadas de um “estatuto” superior, estão de passagem neste mundo terrestre, aliás, como quaisquer outros seres animais, por isso, será incompreensível tomarem certas atitudes, decidirem contra os seus semelhantes porque, em bom rigor, ninguém vai ficar neste mundo “ad aeternum”, para se vangloriar das atrocidades que, eventualmente, venha praticando e/ou tenha cometido.

Resta, portanto, viver em harmonia, com paz, tranquilidade, progresso, bem-estar, gratidão e amor, este no sentido de, pelo menos, haver respeito, solidariedade, compreensão, tolerância, entreajuda e lealdade. Claro que não se pode confundir o autêntico e sublime conceito de amor, com outra coisa qualquer.

Nesta reflexão, em que se pretende enquadrar o amor no trabalho e na vida, não há lugar para desvios concetuais. Entre outras possibilidades, poder-se-ia analisar o amor em seis dimensões ou paisagens: “Oceano de Desejos”; “Planície dos Sentimentos”; “Morros de Ação”; “Montanhas de Doação”; “Picos de Energia” e “Reino do Espírito” (cf. Ibid.:84).

Na primeira dimensão do amor: «O Oceano de Desejos está cheio de criaturas vorazes, chamadas Cobiça e Obtenção, Propriedade e Possessão. Estranhamente, mesmo sendo um mundo baseado no apego, os seres são isolados uns dos outros. Aqui a lei é “Isto é seu e isto é meu”. Mas o amor verdadeiro não contém amarras. No amor sincero não existe esse tipo de desejo. Amarras que prendem. No amor sincero não existe esse tipo de desejo. Aqui o “amor” é uma pérola falsa.» (Ibid.:85).

Numa outra perspetiva, este amor que se está analisando, pode ser entendido como sentimento ou amor emocional, que se situa na denominada “Planície dos Sentimentos: «Aqui há grande beleza – riqueza, abundância, um céu enorme, horizontes longínquos. Aqui vemos o amor como um cacho de emoções, pensamentos e atitudes. A ideia-chave é que o amor é o sentimento de amar. Neste lugar o amor consiste em sentimentos bastante diretos, abertos, claros, animados. Este é o amor do qual nos lembramos quando a palavra é utilizada.» (Ibid.:87).

Continuando a caminhada, montanha acima, sempre na busca de um amor cada vez mais sublime, chegamos ao Amor como Ação (Amor Ativo), os “Morros da Ação”. Aqui: «O que, antes, fora considerado belos sentimentos dentro dos indivíduos – sentimentos de fraternidade e companheirismo, por exemplo – agora aparece como atos de amizade, auxílio e trabalho de equipe. O perdão é apresentado, é dado, e quem o recebe o experimenta. Aqui as pessoas não sentem simplesmente a amizade, elas são a amizade – estendendo as mãos, mostrando consideração.» (Ibid.:89).

Progredindo no caminho até se atingir o amor cada vez mais perfeito, chega-se a um outro patamar, agora denominado “Amor como Doação” (Amor Altruísta). Segundo a terminologia que vem sendo seguida, atingiu-se o nível das “Montanhas de Doação” onde: «O amor se parece com o amor ofegante, agitado e avassalador que os filhotes de estimação têm para com as crianças pequenas – um amor flagrantemente exibicionista; amor sorridente, tocante, feliz. Mas é ainda mais do que isso; é muito mais profundo. O amor é palpável quando é tão puro e simples. Há uma coisa maravilhosamente especial que ocorre entre o doador e o receptor. É como se o espaço entre os dois se enchesse e transbordasse com essa maravilha.

Esta é a região do amor de mãe ideal, o amor em seu extremo mais adorável e doce. Este amor não conhece as fronteiras da convenção. Nenhum código de conduta o restringe. Este é o amor que vem da natureza, dado porque é assim que você age, e não porque é assim que você deve agir. É autêntico, sincero, incontido, simples, espontâneo e inocente – um amor impulsivo e instintivo. É tão raro que não tem preço, está além do valor de qualquer pedra preciosa.» (Ibid.:91-92).

A aproximação ao amor sublime é cada vez mais importante, seja no contexto laboral, seja no âmbito familiar ou social. Este nível do” Amor como Energia” (Amor Potente), situa-se, já, nos “Picos” mais elevados. Com efeito: «Entramos no mundo invisível e vibrátil do amor como um conjunto de energias. Não é uma forma ou um tipo de amor; aqui o amor está além de qualquer forma. Aqui o amor é pura energia, a energia que impulsiona os vários tipos de amor. É o Lugar da Sabedoria, além do conhecimento; assim, cuide de manter a consciência durante essa perambulação através das alternâncias de luz e névoa, através do conhecimento intuitivo e do incognoscível. Aqui o amor se estende, tocando o mundo e todas as almas que nele existem. Aqui o amor é vibração; é um movimento invisível. (…)

Aqui o amor é vontade – o poder da intencionalidade. Nada se move no planeta sem ele. Aqui o amor é motivo; é o impulsionador. É a voz interior (algumas vezes abafada): “seja amável, ame, seja amado”. Aqui o amor é inclinação, o propósito, a urgência em direção à amabilidade. É a direção primordial para sentir e ser amoroso.» (Ibid.:93).

Por fim, chega-se ao “Reino do Espírito”, ao “Amor como Espírito”, (Amor Existencial). Tudo indica que: «É daqui que viemos. É daqui que o amor emana. Aqui não há movimento, mesmo que pensemos estar voando livres. É uma coisa tão imensa que encontramos poucas palavras para defini-la: fundamental, simples, descomplicado, verdadeiro, expansivo, infinito, eterno. (…) Este é o lugar a que chamamos de Eu – eu superior ou consciência superior. Neste lugar, o Espírito e Eu são a mesma coisa. E a paz mental é tão grande que está além da quietude do mundo; é uma tranquilidade definitiva, como se a paz se fundisse com a verdade, o amor e o Espírito. É aqui onde todos eles se misturam, indistinguíveis. (…)

Será que o amor é tudo? Será que o amor pode realmente ser tudo? Se tudo é amor, por exemplo, será que o amor é paz? Verdade? A própria vida? Eu? Você? É mesmo? Pouco a pouco a resposta parece se fundir, se aglutinar: sim! E essa revelação afirmativa repete-se, tornando-se mais definida a cada repetição. Sim. Sim, tudo. Quanto mais vivemos com isso, mais a coisa ganha essência. Sim. O amor realmente é tudo, e tudo é amor; de fato, tudo neste nível é todas as outras coisas.» (Ibid.: 95-96).

Descritas as seis vertentes em que é possível analisar o amor, não será difícil transportá-las para o mundo laboral, onde as pessoas formam equipas de trabalho, em que permanecem várias horas por dia num mesmo local e necessitam de colaborar a fim de atingirem objetivos e assim verem melhoradas as diversas regalias e os próprios rendimentos financeiros.

Verifica-se, portanto, que: «Trabalhar bem através de outras pessoas exige cooperação, trabalho de equipe, lealdade, compreensão, tolerância, auxílio, unidade e amizade. Exige confiança, envolvimento, ajuda, permissão e delegação. E o que são essas coisas? Não são apenas os elementos essenciais para a eficácia do trabalho, são qualidades do amor! O amor não é somente belo – é imperativo! (…) O amor no trabalho está além da suavidade e da gentileza. Inclui o fato de as pessoas se respeitarem e se importarem com as outras, de ajudarem, de protegerem a dignidade das outras, e de darem sem correntes (demais) que as prendam. Essas são qualidades amorosas em ação.» (Ibid.:101-102).

Bibliografia.

HAWLEY, Jack, (1995). O Redespertar Espiritual no Trabalho. O Poder do Gerenciamento Dharmico. Trad. Alves Calado. Rio de Janeiro: Record

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Diamantino Lourenço
Rodrigues de Bártolo