Autoridade Docente, Competência e Segurança

Diamantino Bártolo
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Discute-se, por vezes, acaloradamente, até onde pode chegar a autoridade do docente e considera-se, em certos meios menos prevenidos, a autoridade no sentido do respeito devido ao professor e autoridade do docente no sentido do domínio das matérias que leciona.

Obviamente que são aspetos, dimensões ou realidades diferentes que, congregadas na mesma pessoa, o professor, desenvolvem-se em contextos escolares distintos.

Desde já, esta dupla autoridade, quando existe e é exercida, dá segurança aos alunos, encarregados de educação, instituições, sistema e comunidade em geral, motivando o docente para o seu uso prudente e didático-pedagógico, mais no sentido de formar, objetivamente, para a vida, do que, propriamente, ensinar esta ou aquela teoria.

Destaca-se, a partir das reflexões que antecederam esta, a propósito destas matérias, uma evidência fundamental: é imprescindível a competência multidimensional do docente, para que possa inspirar autoridade e segurança, às comunidades escolar e civil que o envolvem.

Apresenta-se claro e diverso, que o professor trabalha num ambiente muito especial, com públicos oriundos de variadas origens: culturais, sociais, étnicas, etárias, económicas, religiosas e até políticas, ou seja, um público heterogéneo, que sendo mais ou menos exigente, obriga o docente a ser competente, polivalente, especializado, flexível e rigoroso, porém, cabe à escola, enquanto sistema educativo/formativo, estabelecer, ainda que minimamente, os programas, os conteúdos, as avaliações e certificações.

Com a mesma coerência, exige-se que as escolas que formam professores os preparem, também, para os domínios relacionados com a gestão das carreiras, desde logo a do próprio docente, porque só com esta estratégia é que ele, o professor, pode, perante os seus alunos, incutir autoridade e segurança: «As escolas, com raríssimas excepções, nunca incluíram em seus objectivos e papeis proporcionar alguma orientação de carreira aos seus alunos. Talvez não julguem ser essa uma obrigação sua; talvez considerem tratar-se de uma questão complexa; talvez considerem que ao optarem pelos cursos especializados, as pessoas já tenham definido as suas carreiras e não há muito mais o que fazer. Como predomina a crença de que a principal qualificação para a carreira profissional são os conhecimentos técnicos, adquiridos nas escolas, directores, professores e alunos acham que a questão está fundamentalmente resolvida.» (RESENDE, 2000:112).    

A autoridade docente, nas suas diferentes abordagens: específicas de cada disciplina; culturais, humanas, sociais, políticas e de cidadania; deve ser exercida: não só em contexto escolar da sala de aula; mas também noutros âmbitos da vida do professor, o qual deve ser o primeiro a manifestar um comportamento ético e deontológico, compatível com a sua nobre função e estatuto exemplar, porque só por esta forma, revelará competência e inspirará segurança.

Definitivamente, o docente, assim preparado e atuante, constituirá uma referência para a sociedade em geral, e para a comunidade escolar em particular. Ao longo da sua carreira, o professor é, também, um cogestor de interesses, recursos, expectativas e classificações. Uma vez mais tem de se revelar competente e seguro porque: «Aquele que tem de intervir em deliberações, conselhos e decisões, há-de conhecer a fundo o terreno que pisa, e necessita de ter uma competência adquirida através do estudo, da experiência e do trato com homens e coisas.» (WELTY, 1966:428).

Valerá muito pouco ao docente, e servirá muito menos aos alunos, apenas os conhecimentos muito especializados do primeiro, se não tiver competência e autoridade para os transmitir, aliás, poderá, inevitavelmente, nem sequer ser escutado ativamente.

Competência e autoridade acumulam-se e ganham-se, respetivamente, através do estudo e da experiência de vida, coerente com os princípios e valores que propaga, no meio estudantil. Seria inútil, e até improcedente, tentar transmitir e incutir no espírito dos alunos, um conhecimento, uma teoria que, na vida prática, o docente nega pelo seu comportamento. Que autoridade poderá ter o professor que assim se posiciona na vida?

Naturalmente que se determinados programas e conteúdos são de ensino/aprendizagem obrigatórios, e o professor discorda deles, o que eticamente deve fazer é, justamente, revelar esta sua posição e colocar-se numa atitude de conselheiro dos seus formandos, no sentido de lhes notar que em termos de programa e avaliação, tais conteúdos devem estar sabidos.

O comportamento deontológico do docente sugere, nestas circunstâncias, uma separação nítida entre o seu pensamento e a divulgação e explicação dos conteúdos oficiais que, superior, legal e legitimamente estão determinados.

Mesmo em discordância, eticamente assumida, o professor não perde a sua competência, nem a autoridade, antes as reforça, como ganha em domínio, incutindo ainda maior segurança.

Bibliografia
.RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Autoajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark.
.WELTY, Eberhard, (1966). Manual de Ética Social III – O Trabalho e a Propriedade, Tradução, José da Silva Marques, Lisboa: Editorial Aster.

Com o protesto da minha perene GRATIDÃO
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo