Nos últimos anos, a palavra burnout tem surgido de forma mais frequente no nosso dia a dia. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o bornout é uma síndrome resultante do stress crónico no local de trabalho, que não foi gerido de forma adequada. Portugal destaca-se de forma negativa nesta questão. É o país com maior número de horas de trabalho semanais na União Europeia e, consequentemente, apresenta um dos maiores riscos de desenvolvimento de burnout entre os seus trabalhadores. Mas o que é, afinal, o burnout? Quais os seus riscos? E como podemos preveni-lo?
Popularmente conhecido como esgotamento, o burnout é uma síndrome, ou seja, um conjunto de caraterísticas clínicas que têm, obrigatoriamente, de estar associadas ao trabalho. Os sintomas agrupam-se em três dimensões que podem estar presentes em intensidades diferentes:
- Exaustão emocional: a pessoa sente-se permanentemente cansada, mesmo após o fim de semana ou tirar férias;
- Aumento da distância mental do trabalho ou sentimentos de negativismo relacionados com o trabalho: a pessoa passa a trabalhar “em piloto automático” e ocorre um distanciamento emocional e a perda de conexão com as suas responsabilidades;
- Eficácia profissional reduzida: sensação de ineficácia e ausência de prazer ou realização com o seu trabalho.
Estas caraterísticas podem vir acompanhados de tristeza, irritabilidade, alterações do sono, dores de cabeça e dores corporais. No entanto, é importante frisar que não basta ter apenas um sintoma para o diagnóstico e muitos dos sintomas de burnout podem estar presentes noutras doenças, como na depressão ou na perturbação de ansiedade generalizada, tornando o diagnóstico correto essencial. Além disso, o burnout refere-se especificamente ao contexto ocupacional e não deve ser aplicado para descrever experiências noutras áreas da vida.
O burnout pode afetar qualquer pessoa, mas existem fatores que aumentam a sua probabilidade, tanto no ambiente de trabalho como na vida pessoal. Entre os principais fatores de risco estão:
- Carga de trabalho excessiva: quanto maior o número de horas de trabalho, maior o risco;
- Autonomia no trabalho: Tanto a ausência completa de autonomia quanto uma autonomia total, sem apoio ou limites, aumentam o risco;
- Ambiente de trabalho tóxico: Falta de apoio, reconhecimento ou até mesmo situações de assédio ou pressão contribuem para o burnout;
- Desequilíbrio entre esforço e recompensa: As recompensas valorizadas atualmente vão além dos salários, destacando-se a flexibilidade de horário, benefícios na saúde, licenças parentais e dias de férias livres;
- Dedicação pessoal excessiva: Pessoas com forte compromisso com o trabalho, perfeccionistas ou com dificuldade em delegar tarefas tendem a ser mais vulneráveis;
- Profissões específicas: Áreas como a saúde, educação, assistência social e serviços de emergência, apresentam uma alta incidência de burnout devido à natureza emocionalmente exigente das suas funções.
Os efeitos do burnout não impactam somente a vida do individuo, mas também as organizações e a sociedade como um todo. A nível individual, sabe-se que o burnout aumenta o risco de outras doenças psiquiátricas como depressão, perturbação do sono e ansiedade, e o risco de doenças cardiovasculares como enfartes e AVC’s. Quanto à empresa, a sua produtividade e eficiência diminuem pelo aumento de absentismo e rotatividade de trabalhadores. Adicionalmente, o burnout representa custos elevados para os sistemas de saúde pela necessidade de apoio médico e psicológico e, eventualmente, de certificados de incapacidade temporária de duração prolongada.
Reconhecer o risco e os primeiros sinais é essencial para evitar que o burnout se instale. Tanto os indivíduos como as organizações podem adotar estratégias de prevenção.
Mudanças individuais:
- Autocuidado através da prática de exercício físico; alimentação equilibrada e variada; hábitos de sono saudáveis e valorização de momentos de lazer;
- Estabelecer limites entre o trabalho e a vida pessoal;
- Planear adequadamente as tarefas, traçar objetivos e metas de acordo com o tempo de que se dispõe e definir limites.
Mudanças organizacionais:
- Ambiente de segurança psicológica, em que os trabalhadores têm abertura para dar as suas opiniões e sugestões;
- Valorizar os trabalhadores através de flexibilidade de horários, benefícios a nível da saúde como seguros de saúde, aumento do tempo de licença de parentalidade;
- Disponibilizar serviços de apoio e aconselhamento psicológico para os colaboradores.
Quando o burnout já está instalado, é importante procurar ajuda médica, médico de família ou psiquiatra, e psicológica. Técnicas como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) têm-se revelado eficazes na redução dos sintomas do burnout. Além disso, pode ser necessária uma reavaliação do ambiente de trabalho e uma pausa nas atividades profissionais.
O burnout é uma realidade crescente e, por vezes, silenciosa. Reconhecer os seus sinais e adotar medidas preventivas é essencial!
Mantenha-se informado e proativo para viver com saúde –
a prevenção é a âncora para um futuro mais saudável.
Fontes:
Acedido em outubro/2024.
Texto por
Ana Figueiras,
Médica IFE Medicina Geral e Familiar