“Caminha – Pontault-Combault” – A história continua…

Em Junho de 2003 na edição impressa número 269 do Jornal Terra e Mar dei conta da minha experiencia pessoal no primeiro intercâmbio escolar realizado por uma turma de alunos do Ciclo Preparatório de Vila Praia de Âncora inserido na Geminação entre as Vilas de Caminha e Pontault-Combault. Nessa altura comemorava-se o 25º Aniversário da Geminação entre as duas Vilas.

Para uma melhor compreensão dos factos transcrevo na íntegra a referida nota:
Intercâmbio Escolar Caminha – Pontault-Combault – “Um obrigado especial”
Vinte e cinco de Abril de 1984. Para além de se comemorar 10 anos da Revolução dos Cravos, pelas 8 horas, um grupo de 19 alunos do Ciclo Preparatório de Vila Praia de Âncora iniciava um sonho que iria durar 18 dias.
Para muitos era a primeira vez que saiam de suas casas, da companhia da família, há 19 anos nós tínhamos apenas 12 anos de idade, éramos crianças… Se calhar pequenos heróis, dadas as condições existentes na altura.
A vida era outra, as dificuldades dos nossos pais eram outras. Mesmo assim o nosso espírito foi de aventura e os nossos pais tiveram a coragem necessária para nos entregar nas mãos da Professora Orlandina e do Professor Barroso. Tenho saudades deles… Mais do Professor Barroso, pois nunca mais o vi. Foram os nossos pais por 18 dias mágicos. Não me esqueço também do condutor do autocarro, não me lembro do nome dele, mas ajudou-nos imenso, era de Ponte da Barca, tal como o autocarro que pertencia aquela Autarquia.
Dos meus colegas mantenho contacto com quase todos, uns continuam em Vila Praia de Âncora, outros trabalham e fizeram as suas vidas noutros locais, mas todos fazemos parte da história da Geminação entre Caminha e Pontault-Combault. Fomos o primeiro grupo de crianças de Vila Praia de Âncora que se deslocou a esta simpática terra Francesa, outros nos seguiram. Mas, como em tudo, os primeiros são sempre os primeiros.
Durante a estadia em Pontault-Combault fiquei em casa de Emigrantes portugueses. Tive sorte pois outros ficaram em casa de Franceses.
Para mim a língua não foi problema, na casa da Júlia, do João e da filha Paula senti, mesmo com 12 anos, que eram pessoas amigas.
As minhas lembranças desta minha experiência são muitas, os passeios em Paris e arredores, as aulas num Colégio Francês, as muitas novidades que vi. Sobretudo o que mais me marcou foi a enorme felicidade com que os nossos emigrantes nos receberam. Lembro-me perfeitamente de uma festa promovida pela Comunidade Portuguesa, bem como a grande hospitalidade dos Franceses.
Quanto à Júlia, ao João e à Paula, no ano seguinte vieram para minha casa passar as férias de Verão. Quando regressaram à França eu fui com eles, estive mais uma temporada em Pontault-Combault.
Esta história repetiu-se por mais alguns anos: ora vinham eles cá, ora eu e os meus pais íamos lá.
Hoje, passados 19 anos, a Júlia e o João já venderam há algum tempo a velha casa que tinham numa pequena freguesia de Vila Nova de Cerveira, de onde a Júlia é natural, e compraram um moderno apartamento em Vila Praia de Âncora, junto à casa dos meus pais.
Ainda estão em França, seguramente por pouco tempo, pois a velhice, como diz a Júlia “vai ser passada na Praia mais bonita do Mundo” (adivinhem os leitores qual é…). Aqui querem descansar de uma vida de trabalho em Pontault-Combault.
Esta história (verídica) surge graças àqueles dias de Abril e Maio de 1984, em que a criança José Gaspar ficou na casa deles.
Um abraço amigo para todos os habitantes de Pontault-Combault, parabéns a todos pelo 25º aniversário da Geminação com a vila de Caminha.
À Júlia, ao João e à Paula um obrigado especial…
José Gaspar/2003

Continuando a história passaram mais 17 anos, somando aos 19 anos que tinham passado em 2003 dá 36 anos que a história que vos transcrevi já perfez…
Nos dias de hoje continuo a pensar na enorme experiência que aquelas crianças, onde me incluo, tiveram no já longínquo ano de 1984, com apenas doze anos de idade, que aventureiros e sobretudo que responsabilidade aqueles professores tiveram na altura, para não falar dos nossos pais que lhes confiaram os seus filhos de idade tão tenra.
Um abraço especial para a Professora Orlandina que penso que ainda se encontra bem e também para o Professor Barroso apesar de nada saber dele. Para o senhor motorista, não sabendo o nome dele nem como se encontrará também aqui fica o meu abraço.
Quanto à Júlia e ao João fizeram como disseram que iam fazer, mudaram-se para a Praia de Âncora e por cá ficaram, com a velhice vieram solicitar apoio às valências de Centro de Dia e Apoio Domiciliário do Centro Social e Cultural de Vila Praia de Âncora, onde eu próprio sou colaborador, nos dias de hoje a Júlia por cá continua já com alguma debilidade, o João infelizmente e após uma doença de rápidas proporções faleceu neste ano fatídico de 2020. Quanto à filha deste casal, a Paula, continuou em terra gaulesas e por lá fez a sua vida sendo já mãe e avó.
Das minhas colegas e dos meus colegas, se em 2003 alguns estariam por fora da Praia de Âncora, hoje com a excepção de um que não sei o seu paradeiro, todas e todos estamos por cá, cada um e cada uma de nós nas suas vidas, mas todos nos vamos vendo e falando.
Fica assim dado o meu contributo para a continuação desta já longa história de geminação entre a Vila de Caminha e Pontault-Combault, e já agora, se me for permitido deixo um desejo e um desafio, será possível voltar a reviver esta viagem? Não sei a opinião dos meus colegas mas eu teria todo o gosto, passados todos estes anos, em voltar em conjunto a Pontault-Combault… Quem sabe se não poderá acontecer…
Um abraço para todos os intervenientes desta viagem de sonho em 1984 e outro abraço para as “gentes” de Pontault-Combault.

José Gaspar/2020