COMUNICAÇÃO: CHAVE PARA O SUCESSO

Diamantino Bártolo
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Entendido o sucesso como a realização positiva dos projetos idealizados e executados, ao longo da vida, seja da pessoa individualmente considerada, ou da instituição, qualquer que seja a natureza dos resultados, materiais e/ou imateriais, preenchendo, portanto, os requisitos constantes dos objetivos, seguramente que nesse êxito, uma parte significativa resulta do trabalho desenvolvido, justamente, e também, o trabalho comunicacional.

Pela comunicação se estabelecem contactos, se negoceiam condições, se encontram soluções, novos conhecimentos foram adquiridos, outras relações se estabeleceram. A comunicação sempre esteve presente nas relações que, ao longo do projeto e da vida, foram necessárias e desenvolvidas, implícita ou explicitamente, com objetivos pré-estabelecidos ou alterados e fixados no decurso da comunicação. Sempre, e uma vez mais, a comunicação a conduzir os destinos da humanidade em geral, e do indivíduo em particular.

Toda a pessoa, as instituições e os povos de todo o mundo vivem em permanente conflito, seja consigo próprio, no mais íntimo da sua interioridade, seja com o vizinho, o colega de trabalho, o amigo, a família, as organizações.

A decisão que cada um entender adotar e executar, para resolver um conflito, interno ou externo, implica: por uma lado, assumir a responsabilidade pelas consequências resultantes; e, por outro, alcançar o objetivo que se propôs, pelo desenvolvimento e desfecho do conflito, sendo certo que este estado latente de conflitualidade, pode contribuir para clarificação de muitas situações individuais, coletivas, institucionais e organizacionais. Pode-se aplicar aqui o adágio popular: “Do conflito, nasce a luz”.

A comunicação, no sentido mais utilitarista, desempenha na condução de qualquer conflito, um papel nuclear, na busca de soluções: pelo relacionamento interpessoal e interinstitucional; pela aplicação de regras, métodos e estratégias transparentes, é sempre possível tentar a aproximação das posições.

Um dos segredos para o sucesso comunicacional, poderá residir na aplicação de uma ética do diálogo, aqui considerada como uma deontologia, isto é, um conjunto de deveres que os interlocutores devem assumir, como se se tratasse de uma situação profissional. O diálogo profissional, entendido como um conjunto de capacidades e competências, no respeito por deveres recíprocos, na perspectiva assertiva.

Uma das possíveis chaves para o sucesso pode, então, passar por uma atividade comunicacional do tipo relações públicas, com ética, com assertividade, com total comunhão de valores, princípios, regras, deveres e direitos, ou, na impossibilidade de tal convergência, no respeito pelas diferenças. Exige-se que a comunicação seja de nível profissional, com técnicas adequadas e verdadeiras, como se impõe em qualquer atividade, e entre pessoas civilizadas.

Adotar, neste âmbito, os padrões da conduta profissional, das relações públicas, pode ser uma boa estratégia para o êxito do diálogo, porque: «Temos o dever positivo de observar os padrões mais elevados na prática das relações públicas. Além disso, temos a responsabilidade pessoal, em todas as ocasiões, de lidar justa e honestamente com o cliente, empresário e empregados, passados ou presentes, com os colegas, com os meios de comunicação e, sobretudo, com o público.» (GARCÍA, 1999:152).

Este padrão de conduta, no quadro das relações públicas, é suscetível de adaptação à comunicação entre vários interlocutores, nos diferentes papéis em que estão investidos, e com objetivos estabelecidos para as partes, sem que, necessariamente, alguém perca ou ganhe tudo, mas, pelo contrário, que se verifique um resultado do tipo “ganha/ganha”.

Outra das chaves possíveis para o sucesso, aqui num quadro conflitual, pode passar por uma conduta baseada no interesse, no respeito e na atenção que se manifesta, em relação ao interlocutor que expõe as suas razões, sobre o conflito em análise. Neste caso, o diálogo com base no saber escutar, pode funcionar.

A verdade absoluta é um conceito cuja concretização, ao nível da descoberta, não está totalmente ao alcance do ser humano. Extremar argumentos, sem fundamentação lógica, coerente e verdadeira, é uma prática muito utilizada, que não tem conduzido a resultados genuinamente verídicos, porque são falseados na disputa pela vitória, que cada interlocutor procura a todo o custo, não só para alcançar destaque e protagonismo pessoais, como também para humilhar o seu alegado adversário. Neste tipo de condutas, em que ninguém ouve ninguém, em que a escuta ativa não faz parte do diálogo, certamente que o sucesso das partes fica comprometido, ou nem sequer é alcançado.

A verdade, como a virtude e outros valores, não sendo absoluta para o indivíduo humano, no que respeita à certeza, pode, contudo, encontrar-se no meio-termo, na perspectiva das partes atingirem o máximo consenso, sem vitórias nem derrotas, sem protagonismo nem discricionariedade.

A competência reside no saber escutar o outro, compreender as suas motivações, os seus anseios, as informações potencialmente verídicas que possui, ou não, a emoção colocada no assunto, e/ou conflito em discussão, na sua genuína transparência. Se houver uma escuta ativa, atenta, interessada, amiga, se necessário solidária, em cada interlocutor, e/ou ouvinte, então, tudo ficará mais fácil, porque mais claro e mais verdadeiro.

 De facto: «Os ouvintes atentos pensam melhor porque sabem escutar e percebem melhor os factos e as opiniões. Porque os ouvintes atentos vêem melhor os problemas e combinam o que aprendem das formas mais imprevisíveis, são mais capazes de ideias surpreendentes. Finalmente, os ouvintes atentos estão em melhor sintonia com o rumo das situações e o modo como os produtos, o talento e as técnicas devem evoluir para o acompanhar. Por isso é especialmente útil adquirir a capacidade de escutar, mas ser um ouvinte eficaz não é tão fácil como parece.» (WILSON, 1993:144). Saber escutar com as características que se citaram, é fundamental para o sucesso de qualquer comunicação.

O sucesso da comunicação, elevado ao seu mais alto expoente, pode traduzir-se na obtenção da paz, esta considerada como uma situação que proporciona a cada um, e à comunidade em geral, um bem-estar a todos os níveis da existência humana: bem-estar moral, social, profissional, económico, físico-mental, religioso, político e ambiental, entre outras classificações possíveis.

Uma paz que não é definida pela ausência da guerra, mas uma paz ativa, numa sociedade responsável, constituída por pessoas de valores, princípios e sentimentos, capacitada para anular problemas latentes, e resolver conflitos em ato, ou potencialmente em deflagração.

Vai ser pelo respeito dos direitos e deveres de cada um, que se poderá alcançar um pouco mais de harmonia, a começar nas atitudes comunicacionais, precisamente a partir da competência de escutar, o que envolve uma grande serenidade de espírito, para não estar preocupado consigo próprio, enquanto deveria estar a ouvir, atentamente, o seu interlocutor.

Implica, também, lutar contra a tentação de fazer juízos de valor, sobre a pessoa que fala, evitar a todo o custo a preparação, premeditada e intencional, para produzir uma resposta que, objetivamente, vai desrespeitar o interlocutor que discursa, e destruir todos os seus argumentos, por mais sérios, corretos e lógicos que estes sejam.

Se a omissão, em certas circunstâncias, é compreensível, nomeadamente em determinado tipo de negócios e competições, porque não provoca prejuízos nem ofende a outra parte, já a mentira, (que implica deslealdade, falta de solidariedade e intransigência), muito dificilmente, será compreendida e aceite, ressalvando-se, sempre, o conceito quando elevado ao nível do absoluto, porque a omissão e a mentira absolutas, também, tal como a verdade, não estão ao alcance da capacidade humana, existindo, muitas vezes, algum relativismo: o que hoje é verdade, amanhã poderá não o ser; o que ontem era mentira, hoje será verdade; o que foi omisso no passado, poderá ser declarado no futuro.

Sejam quais forem as circunstâncias, as estratégias, os recursos e os objetivos, a comunicação deve revestir as características de: clareza, objetividade, assertividade, escuta ativa, sem preconceitos; sem formulação de juízos de valor; deve utilizar uma linguagem correta, do ponto de vista das regras e simplicidade, para uma boa compreensão.

A formação no domínio da comunicação verbal e não-verbal, deve ser considerada uma prioridade mundial, e um investimento altamente rentável, a médio prazo, para o êxito de todas as atividades humanas, inclusive para a obtenção do sucesso de cada um em particular, mas também de quase todos e da paz universal, no sentido em que aqui lhe é dado.

Deseja-se, por tudo o que se expôs, uma elevada competência no comportamento comunicacional, para a melhoria das relações interpessoais, na dignificação da pessoa humana, no respeito pelas opiniões diferentes, na compreensão de atitudes e condutas. Nunca perder de vista que o ser humano é altamente falível e como tal: “reação, gera reação”.

Evitem-se, portanto, os confrontos agressivos, vexatórios e persecutórios, bem como todo e qualquer procedimento que ofenda a honra, o bom nome e a nobreza das pessoas. “Esta vida são dois dias”. Tudo é efêmero neste mundo terreno, e para a posteridade ficam registadas apenas, as nossas ações: boas e más; as nossas amizades; os nossos princípios, valores, sentimentos e emoções, sinceramente sentidos e vividos, conforme o “Tribunal da nossa Consciência”, de cujo julgamento não escapamos, mesmo que tenhamos enganado todo o mundo.

Bibliografia
GARCIA, Manuel Moler, (1999). As Relações Públicas, Tradução, Duarte Nuno Bettencourt da Câmara, Lisboa: Estampa (BP)
WILSON, Graham & LODGE, Derek, (1993). Resolução de Problemas e Tomada de Decisão: Inovação, Trabalho de Equipa, Técnicas Eficazes. Tradução, Isabel Campos. Lisboa: Clássica.

Com o protesto da minha perene GRATIDÃO
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo