
A sensibilidade para as questões sociais, é uma das muitas faculdades necessárias ao bom desempenho de funções executivas, desde logo no quadro da administração pública: central, regional e local, com especial significado nas pequenas comunidades rurais e, atualmente, cada vez mais importante, também no setor empresarial privado.
Com efeito, mais relevante, porque essencial, porquanto satisfaz necessidades de primeira grandeza, designadamente, nos domínios da: assistência aos idosos, às crianças carenciadas, saúde, alimentação, habitação; apoio aos desempregados na educação, formação, para todos os escalões etários, segundo o conceito de aprender ao longo da vida, até porque já não há educação e formação para médio e longo prazos e, muito menos, definitivas. Hoje, o conceito é: “aprender ao longo da vida”
Cabe, aqui e neste contexto, defender uma formação específica para as famílias, no âmbito da aquisição de conhecimentos e boas-práticas, na planificação, orçamentação e administração dos recursos do lar. É perfeitamente possível, a uma autarquia, ao nível das Câmaras Municipais, (Prefeituras no Brasil) instituir, e colocar em funcionamento, a denominada Escola Social. Tratar-se-á de um investimento que, a médio prazo, produzirá resultados visíveis e, certamente, muito satisfatórios.
Na verdade, diversas Câmaras Municipais, e algumas Juntas de Freguesia, (Subprefeituras no Brasil) de grandes dimensões territoriais, e populacionais, embora com maior capacidade das primeiras, dotadas, como normalmente estão, com pessoal técnico de várias especialidades, e de nível superior, com infraestruturas diversas, edifícios económica e facilmente adaptáveis, equipamentos que, igualmente, possuem, e/ou reúnem, condições para responder ao desafio deste novo século.
Reduzir ou suster o crescente número de pessoas carenciadas, inadaptadas, ultrapassadas pelos progressos científico e tecnológico e, em diversas circunstâncias, marginalizadas, em muitos casos, justamente, por desconhecimento, por inabilidade em gerir os próprios e escassos recursos, o tempo e a formação, acomodando-se, quantas vezes, a um qualquer subsídio, ou a uma pensão de aposentação, ainda que exígua.
A formação de executivos, sensibilizados para as questões sociais, naturalmente que pode iniciar-se no seio da família, em conjugação com uma preparação mais específica, a ser ministrada nas e pelas instituições de Educação e Formação Profissional, especializadas nos diversos domínios do conhecimento, da técnica e da ciência.
É óbvio que a importância e influência da família são fundamentais: quer na preparação geral da criança, do jovem e até do adulto; quer na sensibilização para interiorizar, e depois levar à prática, valores essenciais, num contexto mais alargado de interculturalidade; quer, ainda, na compreensão das situações que se colocam à comunidade, umas, previsíveis, outras, imponderáveis, mas que é necessário resolver com bom senso, prudência e sentido social.
A Escola será, portanto, a parceira privilegiada da família ou, se se preferir, a Família será a coadjuvante preferencial da Escola, na formação de futuros executivos, capazes de entender e resolver os problemas sociais. Com tal objetivo considera-se que: «É da máxima urgência a formação de líderes estudantis que não se contentem com debates, mas que tenham um amplo campo de acção. Para isto se deverão criar Escolas de Líderes estudantis, onde se estuem as qualidades de liderança e principalmente se exercitem, através de exercícios práticos, sob a orientação de uma pessoa competente. Portanto, é da maior importância que nossos filhos não só tenham conhecimento da doutrina social, mas, ainda, segundo os seus princípios, nela sejam educados.» (GALACHE-GINER-ARANZADI, 1969:17).
O papel crucial que o sistema educativo, nas suas diversas vertentes, domínios e disciplinas, desempenha na formação de futuros dirigentes políticos, empresariais, sociais e religiosos, recebe, por parte das famílias, um contributo inestimável, tanto mais essencial, quanto mais a Escola souber valorizar o papel da família, no seio da comunidade, até porque, todo o corpo escolar – docentes, administrativos, alunos e associações – de alguma forma, também se integram, e são parte ativa das respetivas famílias, de onde toda a pessoa provém.
Abdicando-se de absolutismos, e aceitando-se que: nenhum sistema, nenhuma instituição, nenhuma pessoa, são perfeitos, então afigura-se como mais correto e adequado valorizar, e rentabilizar, conhecimentos, experiências e estatutos dos diferentes agentes socializadores, na formação de executivos políticos, religiosos, empresariais, institucionais, cívicos e associativos, reconhecendo-se a influência da família neste processo.
Considera-se a família devidamente estruturada, na medida em que os valores que nela se podem praticar (algumas deploráveis exceções à parte) são uma boa garantia de sucesso, se levados à prática, no contexto da comunidade, porque: «O exercício da vivência democrática no lar, onde se aprende a dividir o poder através da participação de todos em clima de igualdade e respeito; a prática da tolerância ao processo de aprendizagem que se manifesta em tão variados níveis; a valorização de cada um como responsável da harmonia do todo; o desenvolvimento da capacidade de ouvir para depois falar; a aceitação dos limites de cada um para o equilíbrio do grupo, enfim, toda a disponibilidade para transcender cada momento individual, num aprendizado maior…» (BALIEIRO, in: Carvalho (Org.) 1994:127-28).
Bibliografia
CARVALHO, António César Perri de, (Org.). (1994). A Família, o espírito e o tempo. São Paulo: Edições USE – União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo
GALACHE – GINER – ARANZADI, (1969). Uma Escola Social. 17ª Edição. São Paulo: Edições Loyola