A sociedade, globalmente considerada e as comunidades nacionais e locais, em particular, têm vivido em sobressalto, neste período conturbado, onde as incertezas económicas, financeiras, bancárias, laborais e tantas outras, que integram a vida dos cidadãos, tornam muito difícil acreditar em certos sistemas, designadamente políticos, empresariais, financeiros e axiológicos.
O mundo e os principais líderes, quer das potências económicas, quer dos blocos político-estratégicos, estão sob forte pressão, o tempo e as circunstâncias desfavoráveis estão contra eles, dificultando a busca de soluções e a tomada de decisões favoráveis ao bem-estar das populações.
A verdade, porém, é que em primeira instância compete a tais líderes resolverem, rapidamente, todo um conjunto de conflitos, de incongruências e crises a vários níveis, e/ou diversos setores das atividades humanas: emprego, saúde, educação, justiça, economia, indústria, comércio, serviços, entre outras, igualmente importantes.
A “crise”, palavra estigmatizada, que se detesta, mas que faz parte da vida dos cidadãos, por enquanto está presente nos indivíduos, nas famílias, nos grupos e nas comunidades. Os Estados/Governos, as Empresas e Instituições atravessam, igualmente, as suas próprias crises e estas não serão vencidas por estratégias de incriminações, pelo menos nesta fase, nem por processos delatórios e muito menos por atitudes individualistas, do tipo “salve-se quem puder”. O momento é de coesão, de compreensão e de tolerância, sem se abdicar de, mais tarde, exigir-se aos responsáveis que assumam o compromisso de reparar os danos que causaram.
O sucesso passa pela união de todos os cidadãos: ricos e pobres; intelectuais, iletrados, autodidatas; produtores e consumidores; empresários e trabalhadores; governantes e governados; religiosos e leigos; passa, também, e necessariamente, pelo entendimento de todos, pelas boas relações humanas entre os cidadãos de boa-vontade, sem prejuízo da auto-realização que legal e legitimamente pertence a cada um alcançar.
Parece não haver dúvidas que: «O homem é um ser social que, em sua busca do significado e orientação na vida, inevitavelmente encontra os problemas de auto-realização. Esta auto-realização como um indivíduo não depende, como pode sugerir o termo, de uma autocontemplação solitária, mas basicamente de uma interacção com outros indivíduos. Para conhecermos a nós mesmos e sermos nós mesmos, para pôr à prova e desenvolver valores pessoais, precisamos viver e trabalhar com outras pessoas.» (WILLIAMS, 1978:11).
Ultrapassada e vencida a crise pandémica de 02.03.2020 a maio de 2023, pelo menos no que respeita aos seus aspetos mais negativos, outras se lhe seguiram e continuam: Guerra da Rússia contra a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022 e Guerra do HAMAS (Grupo Islâmico Palestino que controla Gaza) contra Israel em 07.10.2023, é óbvio que se torna necessário responsabilizar: quem esteve na sua origem; as causas que conduziram a esta situação; e exigir que de futuro sejam colocadas à frente das instituições as pessoas mais competentes, que se lhes pague um salário justo, acrescido de um prémio pelos objetivos positivos alcançados, mas sem mais quaisquer outros benefícios e privilégios; que se lhes peçam responsabilidades, quando, por negligência, facilitismo e reiterada incompetência, administram mal as instituições para as quais foram eleitos e/ou nomeados, até porque, quando um determinado cidadão, no exercício de um cargo humilde falha, todo o mundo lhe pede responsabilidades e, quantas vezes é condenado em praça pública.
O Estado Social, aqui considerado o Governo de qualquer país, a todos os níveis do poder – central, regional e local – deve preocupar-se: com os mais desprotegidos; com os mais pobres; com os mais fracos; com os menos habilitados e com os mais desprotegidos, competindo-lhe levar à prática políticas de solidariedade efetiva, concreta e objetiva, começando por dar exemplos de boas-práticas, de poupança, de rejeição de salários e reformas de luxo, de privilégios, porque o que se gasta com tais benefícios, representações e propaganda, por muito legítimos e legais que sejam, dariam, por exemplo, para matar a fome a um milhão e oitocentos mil portugueses e/ou criar milhares de postos de trabalho.
Cada vez mais se impõe uma verdadeira educação cívica, uma escola social, a frequentar por todos os cidadãos, com vista ao exercício dos vários papéis, que numa sociedade justa, humana e segura se exige a cada um, desde já a quem tem responsabilidades de governação.
Não basta, aliás, é mesmo muito pobre, uma certa popularidade para a captação de simpatias em períodos mais sensíveis. É muito mais importante uma atitude de humildade moderada, de não se prometer o que não se sabe se se pode cumprir, e estabelecer prioridades que visem a dignificação e qualidade da vida humana de cada cidadão.
Bibliografia
WILLIAMS, Michael, (1978). Relações Humanas. Tradução, Augusto Reis. São Paulo: Atlas