Existir Segundo a Realidade Interior

Diamantino Bártolo
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1808

Para muitas pessoas é muito difícil viver com a verdade, independentemente de ser a sua própria versão, ou estranha a si mesma. Por vezes, a verdade dói muito, quer a quem a sente, quer a quem tem de a divulgar e, também acontece, que quando é necessário afirmar-se a realidade que se tem no interior, que não traz alegria, a uma pessoa de quem gostamos muito, essa atitude provoca um sofrimento atroz, que só quem gosta genuinamente de outrem, sabe o quanto custa suportar.

Seria excelente se fosse possível viver-se com a verdade benevolente que cada pessoa tem no seu íntimo. Talvez que a “construção” do caráter individual beneficiasse com a certeza autêntica porque: «É o caráter que faz funcionar a receita da vida, determinando se engasgamos com ela ou se a saboreamos» (HAWLEY, 1995:161).

Quando se aborda o conceito “caráter”, tenta-se identificar um conjunto de qualidades e/ou defeitos para definir uma pessoa. Igualmente, nas empresas, esta enunciação, é muito importante para se avaliar um trabalhador. Afirma-se que o colaborador tem bom caráter, ou mau caráter, imputando-se boas ou más particularidades.

Com efeito: «O caráter é o elemento que distingue, a essência, o ingrediente básico do novo paradigma administrativo. Ele pode dar à vida da empresa um calor e uma especialidade que hoje em dia estão muito comprometidos. As pessoas têm fome de caráter. A palavra caráter refere-se a um conjunto de ideias e virtudes sociais interligadas, dentre as quais estão a moralidade, a ética, a honestidade e os valores humanos. No trabalho administrativo o caráter consiste em integridade e dharma.» (Ibid.:163).

Se não houver encenações, nem falsidades, nem impostorices, nem hipocrisias, o nosso comportamento funciona muito na base do nosso caráter, da nossa verdade interior, com todos os defeitos e qualidades, apesar de em certos contextos, as regras sociais, jurídicas, tradições, usos e costumes nos imporem atitudes que, muitas vezes, estão em oposição ao nosso caráter.

Em determinadas circunstâncias, quando não se torna pertinente obedecer às normas da sociedade, e estamos perante pessoas que nos merecem a mais elevada solidariedade, amizade, lealdade, estima, consideração e gratidão, isto é, quanto convivenciamos com pessoas que, independentemente de qualquer laço parental, temos a obrigação de sermos sinceros, verdadeiramente amigos, então a nossa verdade interior, através dos nossos princípios, valores, sentimentos e emoções, deve ser manifestada, porque só assim estaremos a respeitar a dignidade de tais pessoas, bem como a amizade que temos por elas.

Novamente, numa versão diferente, aceita-se perfeitamente que: «O caráter é o ingrediente fundamental que provoca a singularidade e a totalidade da vida. A falta de caráter é uma doença de deficiência, uma falta da quantidade mínima da vitamina C necessária à vida. Quer ou não as pessoas viabilizem isso ou pensem, elas sabem que a ausência de caráter significa que são menos do que eram, menos do que deveriam ser, e menos do que se destinavam a ser.» (Ibid.:166).

É certo que o caráter envolve integridade nos vários sinónimos que esta palavra possa assumir: probidade, honradez, retidão, virtude, inteireza, entre outras possíveis. Portanto: «Integridade é ter a coragem e a autodisciplina para viver segundo sua verdade interior. Imagine uma vida humana assim. Existe nela uma grande honra. (…) É um grande sentimento.» (Ibid.:167).

A integridade, talvez o alicerce essencial e mais sublime do caráter, comporta em si mesma cinco ideias básicas a saber: «(1) inteireza, (2) bondade – duas coisas implícitas na palavra integridade – (3) coragem, (4) autodisciplina e (5) viver de acordo com a verdade interior.» (Ibid.).

Aceite-se, ou não, que a sociedade coloca-nos muitos obstáculos, para podermos ser totalmente verdadeiros, porque em certos ambientes, com pessoas complexas e fingidas, no jogo dos interesses quantas vezes inconfessáveis, quando se deseja agradar a “gregos e troianos”, não há caráter para agirmos em conformidade com a verdade interior, recolhemo-nos numa covardia social, e até nos insurgimos quando alguém tem a audácia de usar connosco a sua verdade interior. Tais pessoas preferem a “flexibilidade” da perfídia para ficarem bem “fotogénicas” no quadro dos valores sociais mais quixotescos e inacreditáveis.

Mas é possível, ao longo da vida, e na maior parte das circunstâncias, contextos e pessoas, manifestarmos a nossa integridade, nas suas cinco principais ideias que se transcrevem: «1. Inteireza implica totalidade, perfeição e completude – uma espécie de integridade ou força estrutural forjada. Essas ideias são atraentes em nossas culturas ocidentais (…). 2. A bondade fornece a honestidade e a moralidade em que pensamos ao usar a palavra integridade. Incluídos na bondade estão a decência humana, a justiça, a gentileza, a polidez e o respeito. (…). 3. Coragem não é ausência de medo; é seguir em frente a despeito dele. (…) decidir não guardar alguma coisa que você sabe que precisa ser dita. É dizer a verdade diante do perigo e do abismo. É ser cândido quando isso pode ser perigoso. É fazer ou dizer coisas mesmo quando sejam desconfortáveis. 4. Autodisciplina (…) é ganhar forças para agir de acordo com suas instruções interiores. É disciplina no sentido positivo (…) Autodisciplina é autodesenvolvimento. É o cultivo de capacidades internas (…). 5. Viver de acordo com a verdade interior é o mais importante. A verdade interior comunica-se através de fracos sussurros, pensamentos, imagens e sentimentos profundamente enterrados em nós. Todo o ser humano nascido neste planeta possui esta verdade e tem capacidade de conjurá-la. É uma capacidade aprendida, e exige trabalho. É uma descoberta de nossa percepção sutil, porém verdadeira.» (Ibid.:167-169).

Depois do que se acaba de investigar e divulgar, é provável que muitas pessoas entendam que não se consegue viver em sociedade com a “Verdade Interior”, manifestando-a em todos os contextos, circunstâncias e com quaisquer pessoas e que, portanto, eventualmente, não estão preparadas para assumir, em público, e/ou em privado, tão grande quanto importante responsabilidade.

Por outro lado, será que a maioria das pessoas está preparada para ouvir, concordando ou discordando, as “verdades Interiores” de outras, se tais verdades não forem “agradáveis” para elas? Será que estas pessoas preferem informações fabricadas a gosto, para ficarem satisfeitas no seu ego? E até onde se podem alimentar tais atitudes que não correspondem à Verdade Interior?

Bibliografia
HAWLEY, Jack, (1995). O Redespertar Espiritual no Trabalho. O Poder do Gerenciamento Dharmico. Tradução, Alves Calado. Rio de Janeiro: Record

Gratidão.  «Proteja-se. Vamos vencer o vírus. Cuide de si. Cuide de todos». Vivamos a vida com esperança, fé, amor e felicidade. Perdoemo-nos uns aos outros e alimentemos o nosso espírito com a oração e a bela música. Estamos todos de passagem e no mesmo barco.

Diamantino Lourenço
Rodrigues de Bártolo