GRANDE BENEFICIÁRIA DE EXPERIÊNCIAS TRANSNACIONAIS EM MATÉRIA DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO
A postura dos agentes educativos e formativos deve assentar, em grande parte, na análise do contexto em que desenvolve a sua atividade, mas, também, na troca de experiências com outros países, na procura de oportunidades de benchmarking e na realização de intercâmbios com outros operadores de formação.
A postura mais adequada das escolas tem que ser de se considerarem “organizações aprendentes” atentas às evoluções da sociedade em termos económicos, sociais e culturais e sempre na primeira linha em termos de inovação pedagógica.
A criação das Escolas Profissionais em Portugal teve subjacente os princípios orientadores acima referidos pois, antes do seu lançamento, foram recolhidos contributos de escolas de várias geografias, designadamente, dos países mais avançados da Europa e da OCDE.
A nível do município de Caminha importa referir que, desde as primeiras eleições em democracia para a Câmara Municipal, realizadas em 1976, a educação foi considerada uma prioridade, mas, em matéria de qualificação profissional, somente em 1979, com a geminação de Caminha com Pontault Combault– município situado na Região Parisiense – foi reforçada essa preocupação, por força da comparação da realidade portuguesa com a realidade francesa.
Esta problemática acabou por ser novamente colocada na ordem do dia e incrementada com a entrada de Portugal na CEE – Comunidade Económica Europeia, em 1986. Nesta altura, Portugal passou a ter acesso ao financiamento de atividades formativas através do Fundo Social Europeu (FSE), permitindo aumentar significativamente as atividades de formação inicial e contínua, particularmente, as desenvolvidas pela Câmara Municipal e por várias instituições privadas que passaram a ser apoiadas através de financiamento público.
A geminação de Caminha com Pontault-Combault permitiu comparar o estado da educação em Portugal e em França, constatando-se que Portugal, saído de uma ditadura de quatro décadas, em que o regime de Salazar e Caetano nunca considerou a educação uma prioridade, apresentava muitas insuficiências e debilidades e a França apresentava um sistema de ensino e formação muito robusto com uma forte aposta na educação e formação, ciente de que esse era o caminho do progresso económico e social.
Por efeito dessa geminação analisamos os sistemas de ensino, constatamos a existência de experiências inovadoras, especialmente nos “Municípios Novos” da Região do Seine-et-Marne, mesmo ao lado de Pontault-Combault, que haviam sido pensadas e construídas de raiz, com as creches, os jardins-de-infância, as escolas primárias, os colégios e os Liceus, à luz do que de mais avançado se conhecia na Europa.
No início dos anos oitenta estava em curso, em França, a revisão curricular dos Diplomas dos Cursos Gerais e dos Cursos Profissionais e, para além dos estabelecimentos de ensino que visitamos em Pontault-Combault, e por isso solicitamos uma visita a um Liceu Profissional da região tendo sido proporcionada uma visita ao Liceu Tecnológico e Profissional de Torigny.
A ideia de se avançar com projetos de formação em França, proporcionada pela entrada de Portugal na CEE, ficou bem patenteada nos contactos havidos anteriormente e, em 1986, a AACAM apresentou uma candidatura que foi aprovada pelo FSE tendo sido proporcionada, a várias dezenas de jovens, formação em cursos como: as artes gráficas, a eletrónica, o frio e climatização, realizados na região parisiense, e a aquacultura na zona mediterrânica, em Montpellier.
Alguns anos mais tarde, a ligação à Universidade de Grenoble, em razão da minha especialização em organização e avaliação da formação, conduziu a novos intercâmbios, desta feita, com o Liceu Profissional de Hotelaria de Grenoble que veio proporcionar a realização de estágios e intercâmbios naquela cidade francesa.
Na próxima edição volto ao assunto para me referir aos impactos destas experiências no Projeto Educativo da ETAP – Escola Profissional.
José Luís Presa