Morte de Guilherme Lagido Um Exemplo de Competência, Verticalidade e Humanismo

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O nosso conterrâneo Dr. Guilherme Lagido deixou-nos, aos 68 anos, quando não seria de esperar e quando bem merecia gozar, com absoluta tranquilidade, o tempo da aposentação que, ainda há pouco tempo, havia iniciado.

Este ancorense não renunciava as suas origens. Fez o seu percurso de vida escolar numa época difícil para os jovens da sua idade. Rumou a Lisboa para, no Instituto Superior de Economia fazer os estudos superiores e onde se licenciou em Economia. Conviveu e encontrou gente que, depois do 25 de Abril, haveria de assumir cargos na administração e na política muito importantes.

Recordo que ainda há uns anos, quando na Madeira coincidi numa iniciativa relacionada com a educação e formação com o antigo Ministro da Educação, Professor David Justino, ao tomar conhecimento que eu era natural de Vila Praia de Âncora logo me referiu o seu antigo colega de curso Guilherme Lagido como sendo uma pessoa que muito estimava e a quem reconhecia grandes méritos.

Efetivamente sendo nós praticamente da mesma geração e conhecendo eu, como ele, o peso das diferenças sociais, económicas e culturais que impendem sobre as nossas vidas, importa que se saiba que não era fácil a alguém que vem da “província” afirmar-se em muitos meios, a menos que sejam muitos evidentes as suas qualidades e muito patentes os seus méritos.

Foi exatamente o que aconteceu com o Dr. Guilherme Lagido. Oriundo, como eu, de um meio marcado pela ruralidade, tinha a grande vantagem de saber, de experiência feita, o que tinha que ser feito e que era preciso fazer para singrar na vida.

O Guilherme Lagido tinha, por isso, uma vantagem que decorria do facto de conhecer a realidade melhor que ninguém. Conhecia particularmente bem o mundo rural e também a atividade piscatória, muito evidente na terra que o viu nascer, e as exigências dos novos tempos.

Foi, como se sabe, Diretor do Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG), Guilherme Lagido coordenou o projeto “Da Serra d’Arga à Foz do Âncora”, que sustenta a classificação daquele território como Área de Paisagem Protegida de âmbito regional.

Foi professor em instituições de ensino como o Instituto Superior de Economia da Universidade Técnica de Lisboa, a Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e a Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Viana do Castelo.

Foi dirigente do Instituto de Financiamento e Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura e Pescas (IFADAP). Foi Diretor do Departamento de Gestão das áreas Classificadas do Norte do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) e Diretor na Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN).

Poderia ter sido Presidente da Câmara de Caminha, pois tinha mais do que currículo para isso, como amiudadas vezes foi reconhecido pelo Presidente Miguel Alves. Exerceu as funções de Vice-Presidente a partir de outubro de 2013 e até julho de 2021 com competência, autoridade, bom senso e sensibilidade no tratamento dos diversos dossiês.

Foi pena que tivéssemos perdido um grande autarca. Um grande ancorense que pugnava pelos direitos dos seus conterrâneos. Um lutador pelas grandes causas como a democracia e o socialismo, importando dizer que, embora o Guilherme Lagido não fosse militante socialista, esteve sempre ligado às causas mais nobres que esta força política representava e à qual acabou por se vincular, concorrendo nas suas listas nas eleições autárquicas. 

Em Vila Praia de Âncora esteve sempre na primeira linha no apoio às suas associações, fossem elas culturais, como o Orfeão de Vila Praia de Âncora, humanitárias como os Bombeiros, defesa do ambiente como o Nuceartes e de solidariedade social como o Centro Social e Cultural de Vila Praia de Âncora, para referir apenas algumas.

A sua morte deixa Vila Praia de Âncora de luto e mais pobre.

Enquanto ancorense e seu amigo de longa data, quero expressar as condolências à família e dizer-lhes que a trajetória de vida do Guilherme deixa um rasto de humanidade que importa sejam projetadas no futuro como marcas distintivas de alguém que deixa a todos muito consternados, muito tristes e com muitas saudades.

Embora, nesta altura, estando por dever de ofício nos Açores e, por isso, com muita pena, impossibilitado de estar presente no funeral, aqui fica o meu testemunho.

José Luis Presa