O Autêntico Processo de Aprender
O autor do Verdadeiro Método de Estudar, Luís António Verney, (nasceu em Lisboa, em 1713. Faleceu em Roma, em 1792, aos 79 anos), propôs-se reestruturar todo o ensino em Portugal, aconselhando novos currículos e novos processos de aprendizagem para todos os ramos da sabedoria. Mas quis ir ainda mais longe e resolveu redigir, ele próprio, manuais de estudo para as distintas matérias.
Propósito que nos nossos dias seria apenas fantasista, mas que no século do enciclopedismo era um pouco menos excêntrico. E o facto é que Verney andou perto de cumprir a função
a) A estruturação geral da obra “Verdadeiro Método de Estudar, para ser Útil à República e à Igreja” publicada em 1746 e reeditada em 1747, terá provocado, na época, um grande escândalo por apresentar o manifesto polémico de uma orientação pedagógica nova, dependente de correntes filosófico-culturais recentes, e de soluções educacionais correspondentes, tudo ligado a conceções basilares do iluminismo.
O seu autor mostra-se preocupado com a eficácia social dos estudos em vista da utilidade perante a República e a Igreja, com base na mentalidade filosófica propensa à desvalorização da metafísica, nos cientistas de fundo experimental, e os pedagogistas de orientação racionalista.
O “Verdadeiro Método de Estudar”, funda-se, portanto, em tais mentores e experiências, pretende demonstrar que será colocando as escolas portuguesas numa orientação análoga, que se dotará o país de pessoas suficientemente formadas para a melhor eficiência.
Embora Verney aceite o plano tradicional de estudos intermediários de Filosofia e de outros superiores, pretende remodelar, renovando o espírito que os orientará e o “Verdadeiro Método de Estudar” apresenta-se com uma estrutura de dezasseis cartas e cada uma delas ocupa-se de uma das disciplinas que constituíam as classes e os cursos do Plano Geral de Estudos, então vigente, segundo a ordem de seriação daquelas disciplinas.
Entre outras, verifica-se que as cartas VIII a XI, tratam, respetivamente da: lógica, metafísica, física e ética, cabendo à carta XVI o Plano Geral de Estudos e Educação da Mulher, tema sobre o qual este trabalho pretende refletir.
b) Na carta XVI, que se debruça sobre o Plano Geral de Estudos e Educação da Mulher, o autor entende que tal plano deve basear-se em três níveis de ensino: Instrução Primária no qual se deve aprender princípios de religião, ler, escrever, contar e algumas normas de civilidade; o curso preparatório deve incluir o estudo da gramática portuguesa, da latina e retórica, cabendo ao curso superior estudos específicos de Filosofia, Medicina, Direito Civil, etc.
Para os estudos da mulher, Verney defende a sua educação porque considera uma «loucura a persuasão de que a mulher tenha menos capacidade que o homem, até porque são elas as primeiras mestras nos primeiros anos da nossa vida». Assim, deve a mulher aprender música, canto e dança de uma forma complementar e, fundamentalmente, gramática portuguesa, geografia, noções de economia doméstica, entre outras matérias.
Luís António Verney considera o estudo da mulher como não sendo uma coisa nova, mas bem atual, usual e racionável, entendendo que a diferença de sexo “não tem parentesco com a diferença do entendimento”, pelo contrário, encontram-se mulheres que foram famosas nas ciências e nas artes e que fizeram história, tudo dependendo, apenas das possibilidades de aplicação.
A necessidade de as mulheres estudarem é, ainda, maior nas mães de família, porque são elas as nossas mestras nos primeiros anos de vida, elas nos ensinam a língua, nos dão as primeiras ideias das coisas boas e se não souberem o que dizem e, os erros que nos meterem na cabeça, terão reflexos para toda a nossa vida.
Elas governam a casa tanto melhor quanto maiores forem os seus conhecimentos de economia. Além do mais, o estudo pode formar os costumes a partir dos quais se desenvolverão as coisas úteis e honestas, ou as leviandades repreensíveis. A falta de estudos nas mulheres casadas pode levar os maridos a procurar outras mulheres, com quem possam conversar sobre os mais diversos assuntos, por acharem as suas próprias mulheres tolas no trato.
A mulher culta saberá amenizar as agruras da vida, compreender melhor o seu marido, levantar-lhe o ânimo, possibilitando o desenvolvimento e consolidação da paz e harmonia conjugal.
Às mães deve-se, ainda, ensinar-lhes os primeiros elementos da fé, depois de ler e escrever para melhor entender as coisas, os mistérios da fé, utilizando-se livros com figuras para melhor compreensão dos temas, dando-se, depois, à menina algumas regras de gramática portuguesa e, em terceiro lugar, a ortografia e a pontuação. A seguir devem as meninas aprender aritmética para melhor realizarem a economia da casa.
Para a mulher deverão ser, também, ministrados os estudos complementares, tais como geografia e história sagrada, história universal e história de Portugal. Os estudos especializados de economia doméstica, o conhecimento cabal do governo da casa e os lavores femininos são outros tantos temas que o autor aconselha no estudo das mulheres, concluindo o programa de estudos condicionados de canto, música e língua latina.
Bibliografia
VERNEY, Luís António, (1746). Verdadeiro Método de Estudar, para ser útil à República e à Igreja. Cap. IX, Carta XVI – Estudo das Mulheres. Valensa-Oficina de António Balle. Ano de MDCCXLVI
ARRIAGA, José de, (1980). A Filosofia Portuguesa. 1720-1820. História da Revolução Portuguesa de 1820. Lisboa: Guimarães & Cª. Editores.
“NÃO, ao ímpeto das armas; SIM, ao diálogo criativo/construtivo. Caminho para a PAZ”
Venade/Caminha – Portugal, 2024
Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente Honorário do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal