Seguramente que é pela educação/formação que todo um povo, uma nação e o mundo se desenvolvem, e se aperfeiçoam as muitas e diferentes capacidades do homem.
Significa isto que existe uma responsabilidade imensa em todos os intervenientes por este setor vital da organização societária, cujo núcleo duro central se estabelece numa dualidade cúmplice – aluno-professor, Formador/Formando -, sendo aquele o objeto de todas as atenções deste, ou seja, um sistema educativo/formativo centrado no aluno/formando, porque sem este elemento central, não se justificaria qualquer sistema, recursos, infraestruturas, bem toda uma quantidade de meios envolvidos.
Pertence, por direito próprio, ao aluno/formando todo o protagonismo no setor da educação e formação profissional o que implica, correlativamente, a necessidade de o aluno/formando ser cada vez mais competente nas suas aprendizagens, demonstração das mesmas, em contextos reais de avaliação e aplicação na vida prática da realização e execução dos diferentes papéis: profissionais, sociais, culturais, religiosos, político-cívicos e tantos outros.
O sucesso do sistema educativo inicia-se, claramente, a partir da maior harmonia, solidariedade e cumplicidade entre dois protagonistas: aluno/professor; formando/formador e pais/encarregados de educação.
Tudo o resto, à sua volta, desempenha um papel fundamental, ao nível da complementaridade e da compreensão das posições que os atores principais vão assumindo, de forma responsável e segura, sem prejuízo, relativamente aos menores, de os respetivos encarregados de educação poderem (e deverem) decidir para o bem dos seus educandos, escutando, embora, as opiniões especializadas dos respetivos técnicos e dos docentes.
O ideal desejado, nesta cumplicidade aluno-professor, vai no sentido de o primeiro conseguir uma educação e formação profissional integrais, de tal forma que a sua inserção na sociedade se realize sem dificuldades de maior, quaisquer que sejam os contextos e papéis a observar.
Para que o sucesso se verifique, o aluno/formando deve empenhar-se profunda e ativamente no estudo, e nas boas-práticas, que ao longo da sua preparação para a vida real ativa lhe vão sendo transmitidas, reveladas e exemplificadas pelo professor/formador. A formação integral é, aqui, consubstanciada nos: Saber-ser; Saber-estar; saber-fazer e saber-conviver-com-os-outros.
A cumplicidade envolve e responsabiliza, igualmente, o professor/formador e, numa dimensão tal, que as suas atitudes, conhecimentos, práticas, experiências, emoções, valores e sentimentos possam ser manifestados ao aluno/formando, numa perspetiva de total sinceridade e abertura para o diálogo crítico e construtivo, entre os dois, com objetivos de aprendizagens recíprocos.
Uma tal atitude, por parte do professor/formador reforça a confiança e segurança do aluno/formando, criando-lhe um forte sentimento de admiração e respeito pelo seu mestre e “colega”, neste processo de cumplicidade recíproca. Nesta conjuntura, tão afetiva, o prestígio e autoridade do professor/formador, seguramente que se reforçam e consolidam.
A estratégia da cumplicidade, implica, inevitavelmente, uma relação de entreajuda, em que nenhum dos elementos se impõe ao outro, mas ambos se complementam, cada um dando ao outro o que melhor tem.
Num processo de ensino/aprendizagem e formação, obviamente, existe uma diretividade, uma responsabilização e técnicas que, implicitamente, são assumidas pelo docente/formador, sem que este tenha que, ostensivamente, assumir tal protagonismo.
À boa maneira socrática, pode-se, inclusivamente, utilizar o método da maiêutica, conduzindo e controlando o diálogo, porque: «Professor e aluno, partilhando como homens um destino comum, devem também aprender em comum, em intercomunicação pedagógica, numa comunidade de trabalho. Essa é a «relação de biofilia» que promove a educação para a liberdade. Na escola tradicional, em que o aluno é transformado de ser vivo em objecto, pratica-se, ao contrário, uma «relação de necrofilia.» (Freire, 1974, in: CAMPOS, 1997:150).
A pedagogia da cumplicidade, possivelmente, estará a dar os primeiros passos, em escolas onde se verifica uma situação de grande autonomia pedagógica, uma genuína democracia académica, a partir dos docentes e dirigentes educativos.
A médio prazo, na Europa Comunitária, acredita-se que a partir da implementação total e definitiva do «Processo de Bolonha» se possa desenvolver uma relação de entreajuda, em perfeita cumplicidade e complementaridade, entre professor e aluno, o que implicará uma autêntica revolução de muitas mentalidades, em docentes, dirigentes, funcionários do sistema, encarregados de educação e, eventualmente, muito menor nos alunos.
De facto, em certos níveis do ensino/aprendizagem e formação, um aluno, numa determinada matéria, pode saber muito mais do que o próprio professor, aliás, o que hoje é professor, amanhã poderá ser aluno e assim se alternando os papéis ao longo da vida.
A partir do revezamento de papéis, novos conceitos de autoridade se vão formando: autoridade, que resulta do respeito que professor e aluno manifestam um pelo outro, no exercício alternado daquelas funções; autoridade, que se cria pela compreensão das dificuldades que cada um vai revelando, quando entra nas matérias do outro; autoridade, que se consolida pela empatia alimentada pela tolerância e pela cumplicidade dos intervenientes; autoridade, singularmente democrática para o exercício da liberdade.
Quando se questiona determinado tipo de autoridade na escola, não é relativamente à natureza da autoridade que aqui se reflete, mas, outro sim, a uma autoridade que, alegadamente, exerceria um poder discricionário e ilimitado sobre o aluno/formando, porque, tradicionalmente, a hierarquia estabelecida faculta vastos poderes ao professor/formador.
Assim, a alegada crise de autoridade, nas escolas, poderá significar que: «Não se trata, decerto, de uma recusa radical da autoridade em si, mas antes de questionar a legitimidade de certas formas concretas de autoridade em certas instituições concretas. A questão é de saber que valores são desse modo defendidos, ou que valores anulados; e de distinguir entre o poder que é necessário para coordenar as acções e o poder que é produzido para dominar as pessoas.» (CAMPOS, 1977:150).
Uma alternativa possível para a redução das crises de autoridade, entendida esta como o poder unilateral do professor/formador, sobre o aluno/formando, pode passar por uma pedagogia da cumplicidade solidária, justamente, entre: o professor e o aluno; formador/formando, através de acordos pedagógicos, livre e responsavelmente assumidos pelas partes e, sempre que se justifique, com a adesão dos encarregados de educação.
Bibliografia
CAMPOS, Bártolo Paiva, (Coord.), (1990). Psicologia do Desenvolvimento e Educação de Jovens. Vol. I, Lisboa: Universidade Aberta
Com o protesto da minha perene GRATIDÃO
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo