Ah, Mulher do Minho! Tu sabes o que é o trabalho, o que ele custa ao suor do rosto! Teus parentes, párias na sua província, têm de ir pedir à terra estrangeira, o pão de cada dia. Quantas vezes não é o teu parco alimento cortado de lágrimas e de saudades! Não tens quem te ganhe, ganha-lo tu; tu é que lidas, formosa trabalhadeira e te sustentas no meio de uma lida insana, com que dás à tua Pátria o mais belo exemplo. E contudo, essa vida admirável, esse trabalho portentoso, o que te deixam por dia? Um pedaço de pão de milho, um caldo, nem sempre uma sardinha, bacalhau raras vezes. O que te vale, gentil minhota, para não soçobrares de cansaço, é esse génio que tens, essa fantasia…
Caro leitor, assim escrevia D. António da Costa no seu livro (No Minho, 2ª edição, em 1900)
A partir de 1960, a mulher do Minho, deixou a sua terra, umas vezes só, outras com o seu marido, legal ou a “salto”, torrão onde nasceu, onde cresceu, onde estudou, onde casou, onde teve os seus filhos e também ela emigrou sobretudo para França e outros países, atravessando montes e vales, de dia e de noite, à chuva e ao sol. Emigrou sobretudo para ter melhores condições de vida para si e para os seus.
E quando agora vem passar as suas “vacances”, férias que nunca teve quando trabalhava no campo,” não toca piano, mas fala francês”. É frequente ouvir, em Agosto, nos cafés das freguesias minhotas, a Rosa, a Maria ou a Etelvina, falarem francês e fumar um cigarro. Quem diria que um dia partiram rumo a terras francesas, belgas e luxemburguesas, mas mesmo assim, nunca se esqueceu das suas raízes, da sua vila, da sua aldeia, do seu lugar, de saber o que é o trabalho, o que ele custa ao suor do rosto! Ah, Mulher do Minho, Ah Femme du Minhoo que te vale, gentil minhota, é esse génio que tens, essa fantasia, essa vontade sem limites de dares aos teus filhos uma vida melhor.
Antero Sampaio
Foto: olharvianadocastelo.blogspot.pt