Compreender a Menopausa

Maré de Saúde - a nova rubrica de saúde, pela Dra Ana Figueiras
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A menopausa é uma fase natural da vida da mulher, que marca o fim da sua capacidade reprodutiva. Neste período, ocorrem alterações hormonais significativas que podem ter impacto na qualidade de vida da mulher. Em muitos casos, estas alterações podem gerar dúvidas e medos. E, por esse motivo, é essencial desmistificar a menopausa e entender como lidar com esta fase de forma saudável e equilibrada.

A menopausa define-se como a ausência de menstruação durante 12 meses consecutivos, sem outra causa aparente. Geralmente ocorre entre os 45 e 55 anos, sendo que a idade média de apresentação nos países europeus é aos 51 anos. Este marco assinala o final da função do ovário e a diminuição da produção de hormonas, especialmente estrogénio, progesterona e melatonina (hormona do sono) e o aumento do cortisol (hormona do stress). 

Tanto os sintomas da menopausa como a sua intensidade variam de mulher para mulher. Os primeiros sintomas iniciam-se antes da menopausa, numa fase conhecida como climatério ou peri-menopausa, entre os 40-50 anos e podem estender-se por vários anos. Inicialmente, surgem os afrontamentos (os “calores”), as alterações do sono e as variações emocionais. A médio prazo, pode ocorrer secura vaginal, desconforto urinário e alterações na pele. Como repercussões mais tardias, há um risco aumentado de doenças cardiovasculares, osteoporose e doenças neurocognitivas, como a doença de Alzheimer. A sintomatologia da menopausa passa a ser detalhada abaixo:

  • Irregularidades menstruais: as alterações na menstruação iniciam-se 4 a 8 anos antes da menopausa, inicialmente com ciclos menstruais mais curtos, seguidos de ciclos mais longos até à ausência completa da menstruação. Durante a transição, é importante manter uma contraceção adequada;
  • Sintomas vasomotores (afrontamentos e suores noturnos): sensação súbita de calor durante cerca de 2 a 4 minutos, associada frequentemente a sudorese e, ocasionalmente, a palpitações. Afetam cerca de 70% das mulheres e podem durar de 7 a 10 anos. Fatores como menopausa precoce, obesidade, tabagismo e stress aumentam o risco de sintomas mais intensos;
  • Alterações cognitivas e do humor: dificuldades de memória, concentração, irritabilidade fácil e humor depressivo, são também frequentes nesta fase. Além disso, as perturbações do sono, como o despertar noturno e insónia inicial, são uma queixa comum;
  • Síndrome genitourinária da menopausa: inclui sintomas como secura, ardor e irritação vaginal, assim como infeções urinárias recorrentes e desconforto durante as relações sexuais por diminuição dos estrogénios;
  • Alterações cutâneas: perda de elasticidade e espessura da pele, despigmentação, e aumento dos pelos faciais;
  • Alterações cardiovasculares e metabólicas: o risco de doenças cardiovasculares, como enfartes e AVC’s, aumenta significativamente associado ao aumento de risco de diabetes mellitus tipo 2, hipertensão e colesterol LDL;
  • Consequências Osteoarticulares: a diminuição da densidade mineral óssea, consequente da menopausa, aumentando o risco de osteoporose. Além disso, queixas como dores articulares e perda de massa muscular são comuns.

O diagnóstico da menopausa é clínico e é confirmado retrospetivamente após 12 meses consecutivos sem menstruação, desde que não haja uso de contraceção hormonal. Em mulheres saudáveis com mais de 45 anos, o diagnóstico de peri-menopausa pode ser feito com base nos sintomas referidos anteriormente e ciclos menstruais irregulares. As análises, para avaliar os níveis hormonais, não são necessárias para o diagnóstico da menopausa, sendo recomendadas apenas em casos excecionais, como em mulheres com sintomatologia e idade entre os 40 e 45 anos ou em mulheres com menos de 40 anos com ausência de menstruação.

Embora os sintomas sejam diversos, existem várias estratégias para minimizá-los e melhorar a qualidade de vida nesta fase:

  • Exercício físico: a prática regular de exercício físico é essencial, uma vez que contribui tanto para o controlo do peso, fortalecimento ósseo e muscular, como também ajuda a reduzir o stress, melhorar o humor e a qualidade do sono;
  • Alimentação equilibrada: é importante incluir alimentos ricos em cálcio e vitamina D para ajudar a saúde óssea. Além disso, evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool pode aliviar alguns sintomas, como os afrontamentos, e reduzir o risco de doenças cardiovasculares;
  • Gestão de emoções: Técnicas de relaxamento, como ioga, meditação, ou exercícios de respiração profunda, podem ajudar a lidar com as alterações de humor. Manter uma boa rede de apoio social, familiar e amigos, também é importante;
  • Terapêutica médica: perante sintomas intensos, que interfiram na qualidade de vida da mulher, tais como os afrontamentos ou as perturbações de sono, a medicação, prescrita por um médico tendo em conta riscos e benefícios, pode ajudar significativamente. Além disso, cremes vaginais contendo estrogénio ajudam no alívio da síndrome geniturinária.

A menopausa é uma fase inevitável e natural da vida da mulher, marcada por mudanças hormonais com impacto na sua saúde física, emocional e sexual. Compreender os sinais e sintomas da menopausa, adotar um estilo de vida saudável e procurar ajuda médica quando necessário são passos essenciais para melhorar a qualidade de vida das mulheres que se encontram numa fase tão desafiante das suas vidas.

Assim, a menopausa deve ser encarada não como um obstáculo, mas como uma nova etapa de autocuidado e reforço da saúde.

Mantenha-se informado e proativo para viver com saúde – 

a prevenção é a âncora para um futuro mais saudável.

Fontes:

Sociedade Portuguesa de Ginecologia, Consenso Nacional sobre Menopausa, 2021. Documento disponível em: https://spginecologia.pt/wp-content/uploads/2021/10/Consenso-Nacional-Menopausa-2021.pdf

Acedido em outubro/2024.


Texto por 

Ana Figueiras, 

Médica IFE Medicina Geral e Familiar