ENTREVISTA A MÁRIO REBELO DE SOUSA

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O Jornal Terra e Mar foi falar com Mário Rebelo de Sousa, autor da exposição “Senti Mentos”, que pode visitar até ao final de novembro no Centro Cultural de Vila Praia de Âncora, e tentámos descobrir mais um pouco do que o inspira e a sua visão sobre o mundo da cultura e da sua vida artística.

  • Quem é o Mário Rebelo de Sousa?

Que pergunta! Quem sou eu? Mais um ser neste universo. Sou um fazedor de bonecos. Sou feliz naquilo que faço, dentro do mundo da arte. Sou uma “criança feliz”.

  • Como é que começou a pintar?

Não comecei a pintar, comecei no desenho, muito novo, com as fantasias do Walt Disney. Depois assumi o papel e tive a oportunidade de ver coisas novas com gente ligada às artes, como o meu pai, ou Bruegel e Gustavo Bosch, artistas entre os séculos XIV e XV, onde já existia o surrealismo. Comecei a fazer coisas “impróprias para a sociedade”. Fiz as coisas ao meu gosto e prazer. Mais tarde descubro muita gente maravilhosa. A cidade grande, Lisboa, deu-me oportunidades de conhecimento, essência, atitudes responsáveis e irresponsáveis. O surrealismo é uma frente difícil.

  • Quem são os artistas que o inspiram?

Já referi dois, Bruegel e Gustavo Bosch, mas também Cruzeiro Seixas, Francisco Relógio, “Tic Tac”, como lhe chamávamos, Artur Bruel, Moita Macedo, e também entre colegas e amigos que são maravilhosos, como a Madalena Macedo, Mário Garrido, Vítor Barros, Filipe Fernandes, Cabral Pinto, Paulo Barreto, sei lá, são tantos neste mundo que é criativo… Gosto de gente que faz coisas e que as faz com muita qualidade.

  • Fale-nos do processo criativo.

Acontece muito simplesmente. Primeiro batizo a obra, arranjo uma temática, um nome. Nesta exposição, que denominei “Senti Mentos”, o trabalho é tão sentido como isto, recorro a figuras existentes e de um momento para o outro dou oportunidade à peça de ser outras coisas, ter outras realidades. As coisas acontecem…

  • Como definiria os seus trabalhos?

Sou surrealista. É o meu mundo. É o Mundo e eu a tentar contorná-lo.
Os trabalhos são simples. Segundo vozes de fora: atrevidos, com qualidade, maus intencionados. Sobre o assunto costumo dizer que eu nasci nu, cresci num mundo natural à minha volta. Nas minhas obras aparecem seios, uma mama, uma mulher… Lido muito com o tema “mulher”, fui parido por uma!
O desenhismo é o motor e a cor percorre as linhas e tenho muita preferência pelo preto e branco, depois idealizo coisas…

  • O que tem a dizer a quem visita esta exposição?

Sejam felizes, tal como eu fui a fazer estas obras que exponho. Vejam e leiam. Eu transmito mensagens. Os bonecos (obras) têm mensagens e é preciso ler.

  • Sente que perde um pouco de si de cada vez que vende um quadro?

Sim, perco muito. É uma perda razoável. Estou a dar um pouco de mim a troco de um cifrão. Se pudesse tinha tudo!
Mas gosto de dar obras a quem gosto e a quem merece.

  • Como olha para o estado da Cultura em Caminha e no país?

Aiii… Queres uma resposta à minha maneira? É o filho mais pobre da família miserável. No concelho ou a nível nacional é igual, faltam oportunidades. O concelho tem espaços maravilhosos e que deviam ser mais explorados, com mais qualidade.
Faltam apoios à arte, na divulgação por exemplo. Que apoio é que temos?

  • O que diria aos jovens artistas que se estão a iniciar?

Que sejam atrevidos, que tenham coragem, que se mostrem e que façam coisas. São os indivíduos que mais incentivo, não me importo de partilhar o que sei e de os ajudar no que posso.

  1. Gostaria de deixar alguma mensagem?

Sim, primeiro agradecer a quem escreve e partilha, neste caso ao Jornal Terra e Mar. Quero agradecer ao Centro Social e Cultural de Vila Praia de Âncora, à sua direção e ao Gaspar Pereira, um homem que incentiva a que estas coisas existam. Dá-me gozo este espaço onde me encontro a expor.
Aos leitores, venham! Comentem, atirem-me pedras e chamem-me nomes. Visitem a exposição que não lhes vai cair nada.