Morte do Senhor Joaquim Barreiros aos 102 Anos

Vila Praia de Âncora Perdeu uma das suas personagens mais estimadas
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No dia 7 de abril, Vila Praia de Âncora e a região perdeu uma das suas maiores referências no campo musical. O anúncio da morte foi feito pelo seu filho, o conhecidíssimo Quim Barreiros, que teve o cuidado de comunicar aos seus amigos que Deus havia chamado a “Jóia” mais querida e velhinha, o seu Pai, e, ao mesmo tempo, naquele momento tão triste, agradecia a todos as expressões de pesar que se adivinhavam.
Efetivamente, o Sr. Joaquim Barreiros foi uma figura importante nesta Vila tanto no plano profissional, ligada à reparação e manutenção de veículos de duas rodas, como no domínio da expressão musical com o instrumento de eleição, o inseparável acordeão.

Não é possível falar do Senhor Joaquim Barreiros, ou do Senhor Joaquinzinho como era popularmente conhecido, sem falar do seu apego à música e sem sinalizar a longínqua criação do Conjunto Alegria que, durante gerações, ora participando nas festas e romarias, ora animando os bailes, percorreu a nossa região.

Todo esse percurso foi acompanhado por uma postura de jovialidade, boa disposição e frescura física que fazia enveja aos mais novos. Esta faceta ficou muito bem evidenciada aquando da comemoração de seu centenário e, ainda há cerca de um mês, quando teve uma aparição, infelizmente a última, num programa de televisão dedicado ao seu filho Quim Barreiros, onde, para espanto de todos, apareceu, com 102 anos, a tocar o seu acordeão.

Realça-se também a sua natural facilidade em criar amizades e em registar, com uma fiabilidade incrível, as memórias das vivências na sua Praça da República, mas também nas diferentes festividades e nos acontecimentos que presenciou e nos quais participou.

Apenas como nota pessoal recordo que, quando me via, para além de me saudar afavelmente, falava-me sempre do meu pai, que era um cliente assíduo da sua garagem de bicicletas, pois era um utilizador habitual desse meio de transporte e como as mesmas precisavam de manutenção tiveram muitos momentos de convívio. Registo esses momentos porque nunca deixava de fazer referências muitos elogiosas à sua figura e à amizade que por ele nutria, a que não será estranho, presumo, o facto terem vivido, grande parte das suas vidas, a pouco mais de cem metros de distância.

Como notas finais mas relevantes, direi que recordo o Senhor Joaquim Barreiros como uma figura única, de grande caráter, amigo do seu amigo que me habituei a admirar. Recordo-o porque, desde muito jovem lá ia, por vezes, alugar uma bicicleta, para dar uma volta ao domingo. Recordo-o, também, porque, ainda jovem, me levou algumas vezes, de boleia, a alguns bailaricos por aqui nas redondezas. Recordo-o porque acompanhei sempre a evolução das suas músicas e as nuances que imprimiu ao seu conjunto, sendo certo, digo eu, que certamente por influência do seu filho Quim Barreiros que beneficiou muito dos contactos com as camadas da população mais genuínas interpretando, tal como o seu pai, os seus gostos, usos e costumes.

Recordo-o e orgulho-me de ter feito uma avaliação muito positiva do contributo dado pelo Senhor Joaquim Barreiros no campo da música e da cultura da nossa região e de, enquanto Vereador do Pelouro da Cultura, a par do recentemente homenageado Cesário Lagido, ter apresentado à Câmara Municipal em 1993 uma proposta, aprovada por unanimidade, para atribuição da Medalha de Mérito Cultural que lhe foi entregue em cerimónia pública realizada no Centro Cultural de Vila Praia de Âncora.

Por tudo o que deixo dito, considero muito justo e de enaltecer o gesto do executivo municipal, liderado pelo seu presidente Miguel Alves de, passados mais quase trinta anos, ter realçado e homenageado a figura impar do Senhor Joaquim Barreiros, atentas as suas qualidades e o extraordinário percurso que este homem, com mais de cem anos registou e que, foi e será, um exemplo de vida para várias gerações.

Nesta hora, naturalmente triste, queria deixar uma palavra de conforto, ao seu filho Quim Barreiros que, por coincidirmos mais ou menos nas idades termos algumas trajetórias em comum daí decorrendo alguma proximidade e por isso o singularizo, e às suas irmãs e demais familiares, expressando as mais sentidas condolências, em meu nome pessoal e do Jornal Terra e Mar.

José Luis Presa