“O Farol”

Autor: Paulo Landeck
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Envolvido no denso nevoeiro, deixo-me guiar por laivo intermitente.
Volto a aportar na ilha isolada.
“The Lighthouse” de Robert Eggers ergue-se encardido na caligem, cospe luz e brasas.
A resgatada película, leva-me a navegar por almanaques marítimos tantas vezes balanceados no conforto do meu camarote em alto mar.

Deixo-me encalhar violentamente!
Aguardava há muito, filme assim. Parecem-me séculos à deriva…
Embalado nos liquefeitos sentidos das telas onde não resta céu por pintar, guardo a chave da científica prova de como todas as coisas falham e se deixam corromper.
O espectador sabe o que é ser varrido pela pior das tempestades.
Tudo quanto basta, é sermos apanhados de surpresa (rogue wave!). – Em qualquer lugar onde a hora não conte mais do que a derrota, e das pedras no caminho se façam poitas ou amaldiçoados castelos.

Nessa longa-metragem que é a vida ao alcance de poucos (felizmente, quando o assunto é sério) resta ao sobrevivente nadar…nadar muito, e ignorar exaustão, pois não há tesouro mais precioso do que a vida.

O mar, embora muitas vezes pareça, nunca é igual!

Imaginem quantos segredos esconde a escuridão do profundo oceano. Talvez por isso desperte insaciável desejo de descoberta, aventuras, infindáveis riscos.
Hoje sei, que o mesmo búzio que nos convoca ao reluzente mar da prata pode conduzir-nos à mais fatal traição (novos piratas e “Rum XXI”, combinação explosiva! X enganos). Para mim, a maior das recompensas, sempre esteve ao alcance do olhar atento de qualquer criança.

Finco pés em terra firme…de olhos postos no arrebentação – A isso é obrigado o náufrago.

Contrariando perversa lógica, recuso-me a sair do isolado rochedo, onde aparentemente só a turfa e algumas aves marinhas me poderão visitar.
Talvez poucos seres vivos resistam habilmente como residentes em tão tenebroso cenário. No mar das piores incertezas, é adaptar ou migrar. E só os condenados se adaptam a semelhantes infernos.
É muito fácil viver absoluta calmaria, dias de agualusa, quando tudo é só resplendor.

O pior, são as terríveis tempestades…

“O Farol”, de Robert Eggers, é um filme altamente perturbador; vertiginosamente frenético, carregado de mística, visões, pragas, fantasmas…voláteis demónios (deste e de outros mundos)…
O mesmo “mar cruel” dos épicos combates, purgas, e exorcismos, enrola-nos em paranoias, esbatidas incoerências, delirium tremens…fatal psicose.

Na caldeirada de fantasias preparada com mestria em lume brando, as mitologias fazem a vez ao “pó de enguias”. Na intemporalidade do preto e branco, de pesados cinzentos, não há nada que não pretenda assumir forte impacto visual. – A farolagem cumpre funções.

Na ilha do falo apontado ao céu (verdadeiro obelisco), pronto a ejacular perversão e luz, os elementos naturais comandam indiferentes a reposicionada existência. Escapam à desesperada mão humana que pretenda fazer uso de bartedouro para esgotar excessos, pois desprezam quaisquer considerações.

Aos navegantes, oferecem lúmenes e luminosidade, os mesmos homens que pela luz se deixam cegar!

Não esqueçamos como em condições extremas tudo nasce e renasce pela resiliência. Quando se semeia em terreno sáfaro, o trabalho pode ser árduo e violento, mas da semente nascerá algo novo. As verdadeiras revoluções requerem novos paradigmas, e para que esses sejam aceites, há necessária ruptura.
Perpetuar disfuncionalidades significa tragédia humana.
No fundo, substâncias dançam ao sabor de elementos que interagem entre si, em continuada recriação de essências.

Para criar mundo novo, é preciso sonhar. – O sonho pode ser utópico, mas não é mensurável.

Voltei ao lugar da Dúvida. À forma como uma espécie de sincretismo espiritual surge, como que alimentado por resquícios pagãos, mitológicos e religiosos, visão mais holística do mundo. Parece querer atender múltiplas e desesperadas preces, alheias às esquadrias e outras aritméticas. Há uma necessidade de colmatar o vazio deixado ao mundo cheio de tudo o que irradia diante de nossos olhos e coisa nenhuma.

Perdida a razão, passamos dos confrontos impostos por toda a dinâmica do meio em constante evolução para um pathos que se desvenda como que por camadas de múltiplas existências e que se acabam por afunilar numa espécie de maelström…como se fossem marcadas pela intrepidez de qualquer outra coordenada sem lugar.

Se despir ainda mais a paisagem, aquela ilha não passa de um espaço ocupado por corpos e almas transfiguradas por piores tormentas. – “O inferno são os outros”, diria Sartre.

Talvez quebrássemos espelhos e vaidades, se por momentos reflectíssemos o outro. – Até que ponto encontraremos limites e verdadeiras respostas ao maior desafio, se não o fizermos?

Quão insondáveis são os mistérios da alma quando condicionados a tabulados comportamentos como as marés?

Será que conhecemos quem pensamos conhecer, em que condições?!

As personagens do filme, são como a ilha que nenhum homem quer ser (o poeta inglês John Mayra Donne deixou pegada naquela ilha), embora o exclusivo acesso à chave do poder conduza à cega loucura e controlo. – Quando temos um indivíduo (ou poucos) com o acesso a semelhante “chave”, é expectável que o “outro” seja sempre o oprimido, enquanto seguirmos por essa milenar estrada.

Na luta desigual, a solução também é antiga: quando um dos personagens se vê confrontado com improdutivo e penoso fardo, resolve fazer do outro adubo, na primitiva lei do mais forte….

Antes de culminar desgraça, o solene Thomas Wake (“Willem” Dafoe) afoga-se em ébrios descontrolos enquanto se faz valer de seriíssimos apontamentos para chantagear desgraças (política do medo). Patenteia febres e sintomas de tudo quanto possa ultrapassar a razoabilidade da hierarquia e da ordem. Humilha e chantageia sem cuidar da dignidade humana. Este tipo de opressão é comportamento que cruza mares e tempo ao presente, espelha bem o nosso mundo (propaganda, controle, repressão, castigo, silenciamento de toda a espécie, manipulação…).

Receituário antigo. Repescado pelos sombrios tempos que correm, da farolagem automatizada, e da perigosíssima burrice artificial sem limites.

Não penso que certos métodos tenham por objectivo corrigir o incorrigível (e já se percebeu que não bastam), mas perpetuar heranças, de forma traiçoeira…mesmo com o caldo em ponto de ebulição.

É impossível controlar algo aleatório, como o que possa nascer do comportamento humano. E os traços de extrema desigualdade saltam à vista, nem é preciso procurar.

A cena no topo do farol leva-nos ao clássico do “chefe” na posse da tal chave-mestra do glorificado escritório (e de todas as coisas). O seu templo é o novo sagrado, símbolo de poder desmesurado…vil.
É na corrompida hierarquia que nos surge o homem endeusado, sem ética nem moral. No sentido inverso, “o outro”, sobrevive de súplicas.

Thomas, vive escandalosamente alheio ao sofrimento imposto ao ser (dis)semelhante, apesar de habitarem provisoriamente a mesma ilha. – Assim assegura sua máxima liberdade para os seus devaneios. Alicia o condenado, como quem pesca nos meandros da política. Procura a dado momento acalmá-lo, com engodo do navio que nunca chegará para a desejada rotação de tripulantes, até que todas a esperança e dignidade lhe seja roubada (sem assistir a verdadeira positiva mudança de condições). – Eternas e verdes são todas as promessas, mesmo quando pintadas de azul.

A luta pela condição humana de Arendt passa diante dos olhos do espectador.

Quantas tensões alimentadas até que a morte os separa, quando o oprimido toma violentamente por assalto o lugar de seu opressor.

Pesadas são as aleatórias nuvens que afectam a paz social.

Esse nocivo ambiente faz-nos questionar o pré-estabelecido. A necessidade de renovar terreno estéril, por convivência salutar e duradoura. A visão holística do mundo

O filme poderia desenrolar-se num qualquer arquitectado panóptico. – Em nome da “disciplina social” e “necessária repressão”, desmontaria Focault.

No fundo, somos desde o primeiro dia, o que de mais estranho há por descobrir. Muitos nunca se afoitam a quebrar barreiras, por receio de suor e lágrimas…

Eggers remete-nos para as origens (expressas na luz e no sémen); para o início do homem (ou reinício algures na pesada timeline da vida), e seu destino final.

Nesta trama, nem a oportunista gaivota escapa ao fatídico destino.

É naturalmente, uma obra impregnada de cultura marítima.

E haverá coisa melhor na vida, do que essa vasta e rica cultura, para confrontar nossa existência com a violência e natureza da perpetuada condição? – Quantas analogias…

Poderia bem assistir a este filme num museu de arte, tantos são os rasgos de telas, como panos esfarrapados ao vento.

Bolino do realismo do revolucionário Manet (focado no acontecimento quando pinta) ao sugerido expressionismo (Munch…quantos gritos?!). Nada bonançoso é o romantismo de Turner (implícito até na leitura de incompatibilidades e desgraças…depois de breve “namoro” entre personagens).

A homenagem à literatura gótica e ao romantismo sombrio é evidente. Mas também às tendências dos últimos anos, não só na literatura, como sobretudo nas séries outrora prisioneiras de um ou outro botão da caixa da tv.

A tendência pelo género de crime, drama, ou policial sombrio, cujos misteriosos contornos parecem pálida e fiel imagem da desolação e necessária frieza de certas latitudes, tem sido receita de sucesso.
A minha box gravou similaridades de séries que segui com atenção. Séries, em que o paganismo e tradições assumiram forte ligação às raízes identitárias por detrás dos lugares e das personagens, ou por influência de seus autores.

Passo por Ann Cleeves, criadora da série policial “Shetland”, igualmente interessada em ghost stories, fiel a uma certa tradição britânica; encontro esses traços em séries como a germano-austríaca “Der Pass” (2018), impregnada de mitos e velhas tradições ligadas aos Alpes; ou a escandinava “Bron/Broen” (2011-2018), produzida por dinamarqueses e suecos; a francesa “La Forêt”, de 2017, foi recentemente exibida na RTP2 e e não fugiu à forte influência celta; da Islândia, a muito bem concebida “Trapped”, de (2015); Outra que tenho seguido com entusiasmo, é “Wisting” (2019)…baseada num caso real, e que oferece o toque extra do lugar propício à imaginação e à trama, pelos vistos bem real…poderíamos continuar…e recuar muito mais (“Fargo” é para mim um marco, uma obra de arte, onde só o frio parece ficar bem e passar no branco do ecrã).
Penso que a atenção ao detalhe (geográfico, cultural, histórico, identitário) empresta legitimidade a qualquer enredo; igualmente hiper-realista, para que não fiquem duvidosos pormenores por mãos alheias. Este é o mundo da alta e virtual definição, da manipulação visual.
Carregada a envolvência, trabalhado o velho guião, podem ser os pequenos detalhes a despoletar gatilho, pelo melhor arrepio na espinha que só grandes e intemporais mestres nos souberam oferecer.

Além das mais óbvias influências, há um esforço para preservar velhos legados.

São justas, as homenagens: ao grande Poe, Mestre Hitchcok (“The Birds” presente da forma mais descarada), ao “Cthulhu” de H. P. Lovecraft, e como não poderia deixar de ser…Melville, e o capitão Ahab.

O mesmo mar passa por Nathaniel Philbrick.

É arpoada memória de hercúleas batalhas, de gente imersa nas piores condições a que se viam forçados, quando as longas caçadas a maior distância assim obrigavam (por cada vez mais raros recursos). Esse mar longínquo é o tal que transfigura qualquer pessoa, do mais caprichoso, ao duro homem de mar…tão bem retratado em cena de filme que vi recentemente com Jonh Wayne, “Reap the Wild Wind” (compreensível para quem chegava a passar 3 a 4 anos na caça à baleia, embora o registo de viagem mais duradoura até aponte aos 11 anos, imagine-se).

As difíceis navegações bem poderiam ser capitaneadas por Joseph Conrad, por tão bons detalhes, quer na sua obra, quer como oficial mercante de vida muito atribulada, e por toda a miséria humana que testemunhou no Congo (RDC) de Leopoldo II da Bélgica, em nome do marfim e da borracha.

A linguagem estética do filme a preto e branco recupera longa herança cinematográfica, fotográfica, mas também temática…o mar, sempre o mar – Como as documentadas memórias piscatórias (nalguns casos associadas à propagandas de regime). A história do cinema não é alheia a esses registos.

Embora parte da velha cultura atravesse oceanos da mais viva memória, por via da oralidade, da música, ou formas ao alcance de métodos de estudo antropológico, e ainda que nos chegue de geração em geração, importa preservar outras formas de registo existentes desde os tempos longínquos – da mesma forma que produções, metodologias, ou técnicas, da sétima arte.

Se a luz tem um forte significado, é a mão do homem que cuida do fálico obelisco e não deixa morrer o farol; talvez alusivo a uma das sete maravilhas do mundo antigo: o Farol de Alexandria. – Só por curiosidade…sétimo, é o numeral ordinal associado à harmonia e perfeição, válido igualmente para a arte cinematográfica.

Nos quadros de Turner, talvez sejam outros os rasgos de luz. Sol, fogo, espumas,…e madrepérola.

Nem mesmo o fiel conduto faltou à mesa da personagem que labuta de mãos calejadas em desgraça: salgado, seco, e curado…- como mandam tradições, e confirma a história da alimentação humana.

Bem poderia ser o arenque de Neil M.Gunn (“The Silver Darlings”) e do resiliente e poético isolamento, tão útil ao cartaz político (gente que lavrava rocha e passou a lavrar o mar), ou quem sabe, por quantas artes, outros pescados.

A repescado momento, tive a sensação de estar numa espécie de Sin City. Pareceu-me ver esboços de Frank Miller e acção à Tarantino. Senti no rosto a mesma chuva, talvez impressão minha.

Creio que é no cinema documental, que assenta igualmente boa parte do filme. Faz todo o sentido.

Ocorre-me Robert Flaherty e “Nanouk of the North”, esse marco incontornável da docuficção…e não sei se haverá qualquer coisa de “Maria do Mar”, de Leitão de Barros…

Simultaneamente a homenagear e ultrapassar a etnoficção documental, está a forma como Thomas Howard (Robert Pattinson) pega na sereia e simbolicamente penetra novo mundo…- coito tão arrebatador quanto perigoso… – tão necessário apelativo, quanto necessário, com riscos de agoiros, maldições, ou prometidos enterros sem caixões.

O livro de honra deveria ser assinado por Neptuno, por casamento tão perfeito. Nem a indumentária e toda a caracterização ficou por mãos alheias
.
Gostei do excelente trabalho de ambos os actores, com um Willem Dafoe maduro, de se lhe tirar o chapéu à loucura.

Não faltam presságios, ditados populares, augúrios…referências culturais de variadas comunidades piscatórias (como da Escócia).

O dóris não foi esquecido, e claro…as canções de velhos lobos marinheiros (valioso património sonoro e de imenso mar de estórias).
Não faltam artes e ofícios bem representados, ou um cheirinho a instrumentos de trabalho e penosas rotinas.

Antes das automatizações, o isolamento era de outra dimensão, não devia ser nada fácil a vida dos guardiães da luz…sente-se o peso desse passado. – Se bem que não sei, se não nos estamos a tornar ainda mais descartáveis, à luz da cobiça humana e da escassez de recursos (além de outro desafios que cavalgam diante dos nossos olhos).

Há uma cena em Ephraim Winslow surge pendurado no farol, de trincha na mão, em trabalhos de manutenção, como quem segue em rapel. Lembra recolectores perigosamente debruçados nas escarpas. Quem sabe se recolectores de ovos de fulmar-glacial, tão apreciados nas Ilhas Faroé; ou de ovos de gaivota (sobretudo em tempos de crise); ou até referência aos islandeses, na tradicional captura do papagaio-do-mar, essa linda criatura que tive a oportunidade de observar vezes sem conta no seu habitat natural.

Essa mesma cena lembra-me de Mark Twain, o eterno simpatizante da causa abolicionista, “pai” do inconformado Tom Sawyer que recorreu às suas melhores ferramentas para trocar a trincha e a cerca por pintar, por coisas mais apetecíveis.

Se com Tom Sawyer não duvidamos do seu papel, pela inocência da idade, com o faroleiro, entramos num campo semelhante ao que se debateu com o “Joker” (herói, vilão, ou anti-herói), e se fosse mais longe com a personagem Alex, de Kubrick (novamente causalidade).

O direito à mais básica liberdade não se esfuma no cachimbo do velho faroleiro.

Tal como a escravidão, ou a tortura psicológica.

São odores do tempo de implacável trato para com os desvalidos, coisas que teimam em resistir, o cheiro do tabaco perdura, tal como das plantações dos escravos em fuga.
O capataz sente que ganha ao castigar. – Outros governam-se a gerir silêncios, informação, leis com “l” minúsculo de interpretações à medida da carteira, clubísticas manipulações, alegada indiferença, como inocentes formas de conivência. – Já viram algum homem feliz constantemente carrancudo ou o oposto?

Quando a fúria do machado destrói o bote (a remos), é quase um desmembrando do outro, e do próprio Homem.

A condenação sem tribunal nem Justiça é o prémio pela sua miserável condição. – Fica o indivíduo sem fuga possível à dura e palpável realidade.

Resta-lhe sucumbir ou confrontar.

Ecoam velhas questões:
De que serve o conhecimento e todas as desenvolvidas possibilidades, quando o homem que pode construir, é o mesmo que destrói (sempre que os seus interesses pessoais sejam colocados em causa)? – O mesmo que corrompe e se deixa corromper. O mesmo que controla, não tem quem o controle, nem autocontrole de qualquer espécie.

Não estará à vista o naufrágio mais comprometedor para sobrevivência da Humanidade, quando cedemos a interesses de verdadeiros inaptos (e autênticas fraudes), para nos permitirmos a varrer gente apta como lixo para debaixo do tapete?

Que sentido evolutivo é este, que não se vê em mais espécie alguma?

Quem quer enfrentar a pior tempestade no oceano com comandante que não sabe o que faz, mas por lá anda, por ser do partido A, filho de B, cunhado de C, amante de D?

O Farol retrata corrosão, disfuncionalidade, civilização em colapso… – cavamos o buraco, ou seguimos por caminho completamente diferente?

Curiosamente, o período em que Portugal mais brilhou, foi quando quebrou todas as barreiras.

Os sonhos são igualmente utopias e realidade.

Tal como o mundo espiritual se encontra em alongada crise, também a “divinizada” Ciência tornou-se muito menos confiável. São necessárias purgas éticas em todas as áreas da sociedade, e igualmente em nossas casas (crise de valores. O que é o sucesso e como se alcança? Por onde passa a felicidade?).

Achei de uma ironia tremenda a referência “meteorológica” (de múltiplas leituras).
Não me refiro ao cenário vivo, ou esplendor que nebulosos frames possam carregar, nem à história da ciência (no Reino unido), mas a como o condicionado conhecimento (crise no conhecimento) afecta as mais elementares noções que ditam não só a sobrevivência dos homens (sobretudo face aos piores desafios), como podem oferecer em troca um valente balde de merda na cara, quando um indivíduo deixa de saber distinguir sotavento de barlavento. – Talvez esteja a exagerar no retrato de um mundo onde falta até o mais elementar bom senso.

Ou talvez a leitura, seja simplesmente essa mesmo: a causalidade (entre muitas outras leituras que faço, e não sairia daqui hoje). – Os incompetentes/corruptos de ontem, podem bem ser os genocidas de hoje ou de amanhã. E adivinhem…são eles quem nos mandam despejar os baldes cheios. – Novamente contra o vento?!

No mundo do balde de merda, o ál(cool) representa os combustíveis que alimentam acesso ao etéreo mundo, onde a carga “sobre-humana” só se faz notar, quando emborcada toda a sua capacidade…atingido o ponto de ruptura e de máxima paranóia.

No mundo do balde de merda, é fácil verificar como a corrosão ataca impiedosamente…até a fonte da vida fica inquinada.

O espectador não brinda apenas ao sal de velhos homens de mar: ergue canecas à desolação, à nossa anunciada desgraça!

Se estamos no mesmo bote, arranquemos então os machados às mãos dos fratricidas.