Valores para a Estabilidade

Opinião de Diamantino Bártolo
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A sociedade humana, presumivelmente, ao contrário de outras formas de grupais, rege-se, no seu funcionamento, articulada por um conjunto de normativos jurídicos, fundados no direito positivo, bem como regras sociais e hábitos, que resultam de usos, costumes e tradições, abrangidos pelo direito consuetudinário, onde pontificam atitudes, comportamentos e reações, sustentados por uma axiologia, relativamente estável, quanto a alguns dos valores que a compõem, mas também em função das personalidades individuais, em construção permanente, pelos métodos inerentes ao processo de socialização que, igualmente, nunca estará concluído.

Efetivamente, não há um modelo perfeito e acabado, muito menos existe o paradigma de uma sociedade ideal, eventualmente, nem as cidades-utópicas, concebidas por grandes pensadores como Platão e a sua Republica, S. Tomás de Aquino com a Cidade de Deus; Owen e o Falanstério; Saint-Simon com um projeto assente nas bases da ciência e da indústria, para conseguir uma sociedade sem clases, uma renovação ético-religiosa, apenas para invocar alguns e, finalmente, a Democracia atual em que vivem a maior parte das sociedades mundiais.

É certo que nem todos os valores, muitos deles transformados em direitos e deveres, são comuns à totalidade das populações, dos cerca de duzentos países que há no mundo, porém, alguns daqueles valores, consensualmente interiorizados, como: a saúde, o trabalho, a educação, a segurança, a paz, a felicidade, são pacificamente aceites, desejados e cumpridos: «Toda intervenção na realidade humano-social está eivada de valores. (…). Há certo consenso em se adoptar como valores: 1. O valor e a dignidade humana; 2. O bem-estar e a integridade do grupo; 3. O progresso e o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade; 4. A segurança do indivíduo e da sociedade.» (FALCÃO 1979:15-16).

Naturalmente que tais valores se identificam mais com a intervenção social nas comunidades, grupos, famílias e pessoas, estas individualmente consideradas, mas outros valores são, igualmente, importantes para o bem-estar geral das populações, designadamente, por exemplo, o desenvolvimento da qualidade de vida, o meio ambiente, o lazer, a habitação, a própria religião, enfim, Deus.

Fomentar, praticar, consolidar e reatualizar os valores essenciais, para a boa convivência humana, entre pessoas, famílias, grupos, comunidades e sociedades, para além de ser um dever de cidadania, em que cada indivíduo se deve empenhar profundamente, é, também, uma obrigação ético-política dos titulares de cargos e funções dirigentes.

São eles que devem dar os primeiros e mais evidentes exemplos, porque na verdade, eles são líderes de uma determinada comunidade: cívica, política, religiosa, empresarial, desportiva ou de qualquer outra natureza. Seria incompreensível, e inaceitável, que um líder semeasse a discórdia, promovesse a formação de grupos e fações rivais, utilizasse métodos divisionistas, no seio de uma comunidade que, a partir do momento da eleição, ou da nomeação, tem o mesmo chefe, devendo este assumir-se como o líder de toda a comunidade, e não apenas da parte de quem o apoiou, num qualquer processo democrático.

A estabilidade, quaisquer que sejam: a abordagem e objetivos, salvo raríssimas e justificadas exceções, aqui entendida no seu conceito de harmonia, concórdia, respeito pelas opiniões e opções políticas, religiosas, profissionais e associativas de cada cidadão, é um valor a aprofundar, cultivar e conservar.

A compreensão e generosa análise das atitudes de cada pessoa, família, grupo ou comunidade, deve ser a linha de rumo que cada cidadão terá de seguir, embora a responsabilidade maior, até em termos ético-morais, caiba, justamente, a quem desempenha funções de liderança e executivas, com poderes para tomar decisões, que afetam, positiva, ou negativamente, pessoas, e/ou instituições.

Existem vários níveis no exercício do poder, dos quais se destacam os seguintes: família, Igreja, escola, político, militar, empresa, associativismo, entre outros, onde os respetivos dirigentes não podem falhar de forma intencional, reiterada, estruturada e consolidada, sob pena de estarem a prestar um péssimo serviço às comunidades que os elegeram, ou nomearam, para os respetivos cargos.

Tal como numa família, numa empresa ou numa religião, a estabilidade político-social, numa determinada comunidade local, é essencial para o bem-comum, para o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, bem como para a segurança de pessoas e bens. Claro que o progresso passa por um trabalho em equipa, onde o diálogo entre todos os membros é fundamental para o sucesso dos projetos, da instituição e dos seus utentes.

Pode-se pensar, todavia: «No mundo corporativo, em que cada vez mais o trabalho em equipe é valorizado, devemos cultivar a capacidade de escutar e de manter um diálogo constante com o outro e com o mundo. Se observarmos bem, a falta de diálogo dá origem ao sujeito arrogante (‘só eu sou bom’), egocêntrico (aquele que nega o outro) e chato (aquele que só consegue ver o seu próprio ponto de vista)» (CARVALHO, 2007:42).

No quadro das pequenas comunidades, como são a maioria das aldeias, vilas e concelhos portugueses, de facto, não se compreendem quaisquer atitudes que visem lançar a discórdia, o debate estéril, o uso de argumentos ofensivos, o recurso à perseguição covarde e sem rosto, a ingerência na vida privada e outras ‘técnicas’ de tristes resultados, e de má memória.

Bibliografia

CARVALHO, Maria do Carmo Nacif de, (2007). Gestão de Pessoas. 2ª Reimpressão. Rio de Janeiro: SENAC Nacional

FALCÃO, Maria do Carmo Brant de Carvalho (1979). Serviço Social. Uma nova Visão Teórica. 3ª Edição, revista. São Paulo: Cortez e Moraes.