PESCADORES DE CAMINHA, VILA PRAIA DE ÂNCORA E CASTELO DO NEIVA DENUNCIAM DESIGUALDADE

Mestres e tripulantes de 49 embarcações locais estiveram reunidos com Presidente da Câmara Municipal de Caminha
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O Presidente da Câmara Municipal de Caminha recebeu ontem [24 setembro] cerca de meia centena de pescadores de Caminha, Vila Praia de Âncora e Castelo do Neiva que se mostram indignados com o tratamento desigual dado pelos responsáveis do empreendimento eólico Windfloat Atlantic (WFA) às embarcações que pescam no local agora ocupado pela obras de construção do parque eólico.

Recorde-se que a WFA é um projeto de central eólica offshore orçado em 125 milhões de euros, coordenado pela EDP Renováveis e que integra como parceiros a Principle Power, a Repsol, a Portugal Ventures e a metalúrgica A. Silva Matos.

O novo parque eólico cria uma zona de interdição de pesca ao longo do cabo submarino que liga a plataforma à costa (meio quilómetro para cada lado do cabo) numa extensão de vários quilómetros. O facto, impede as embarcações de exercerem a sua atividade e aumenta a procura nas zonas envolventes.

É este facto que indigna os pescadores de 49 embarcações locais de Caminha, Vila Praia de Âncora e Castelo do Neiva esquecidos nas negociações que os responsáveis pelo consórcio, sob mediação do Governo, fizeram com algumas outras embarcações sem que se conheça o critério dessa exclusão. De acordo com os pescadores, 16 embarcações costeiras, primeiro, foram privilegiados com 1 milhão de euros e outras 28 embarcações locais, depois, foram beneficiadas com 500 mil euros de novas compensações, tendo sido postas de lado 49 embarcações locais que têm direitos de pesca sobre a mesma zona e vão ver, áreas mais próximas dos seus portos, afetadas pelo aumento do esforço provocado pela interdição.

Os pescadores uniram-se e vieram pedir apoio ao autarca de Caminha, Miguel Alves, no sentido de fazerem ouvir a sua voz junto do consórcio e do Governo. A indignação pelo esquecimento das suas embarcações e das suas famílias é maior por não se conhecerem os critérios da preferência de umas embarcações pelas outras, de não serem ouvidos pelas entidades públicas e privadas, de terem um duplo prejuízo pela diminuição da área de pesca e de estarem centenas de postos de trabalho em risco. O sentimento de injustiça é ainda maior pela perceção que há que aqueles que sempre estiveram de boa fé no processo não têm direito a nada e aqueles que, sem razão, ameaçaram boicotar festas e a prossecução da obra saíram beneficiados com 1.5 milhões de euros.

Neste momento, sem soluções, os pescadores admitem várias formas de protesto e uma delas passa por marcar presença no comício do PS em Viana do Castelo, do dia 27 de setembro, sexta-feira, que se realizará no Largo da Estação às 21H e contará com a presença de António Costa. A colocação de uma providência cautelar e o boicote às próximas eleições legislativas são outras das ações em ponderação pela classe piscatória.

O Presidente da Câmara Municipal de Caminha, que tem vindo a acompanhar a situação, com muita preocupação, ao longo das últimas semanas, ouviu as reivindicações dos pescadores ao lado do Comandante da Capitania de Caminha e prometeu colocar a questão ao Governo de modo a que se possa encontrar uma solução justa, rápida e eficaz para esta situação e evitar qualquer ação mais intempestiva por parte dos pescadores indignados.

Augusto Porto (Associação de Pesca Profissional do Rio Minho e Mar)
Augusto Silva (Associação de Pescadores Profissionais do Concelho de Esposende)
Vasco Presa  (Associação de Pescadores Profissionais e Desportivos de Vila Praia de Âncora)