Valores Cívicos e Culturais

Opinião de Diamantino Bártolo
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Provavelmente, o mundo axiológico, deste início de século XXI, não é o mesmo que se verificava há um século atrás. Esta diferença de valores, não significa que a sociedade atual não tenha valores, ou que estes sejam inferiores ou superiores àqueles que se defendiam no passado. Na verdade, a sociedade moderna, aparentemente, parece não dar importância às várias dimensões imateriais, em benefício dos diferentes estatutos: poder, prestígio e económico.

Pode-se afirmar que os valores cívicos integram toda uma cultura, transversal a todas as áreas do conhecimento e, nesse sentido, quanto mais culto (cultura aqui entendida no seu sentido mais amplo) for o ser humano, melhor compreenderá os seus concidadãos e, certamente, a capacidade de resolução de problemas poderá ser muito maior.

Ao desenvolvimento de uma sociedade, a todos os títulos, não é alheio o seu nível cultural em geral e, também, particularmente, quanto aos diferentes conceitos e aplicações dessa mesma cultura. Em termos latos, admita-se, aqui, a cultura como: «O sistema integrado de padrões de comportamentos apreendidos, os quais são características dos membros de uma sociedade e não o resultado da herança biológica. A cultura não é geneticamente predeterminada; é não-instintiva. É o resultado da invenção social e é transmitida e aprendida somente através da comunicação e da aprendizagem.» (HOEBEL e FROST, 1976:4).

A cultura, segundo o conceito acima transcrito, entre centenas de outros, igualmente válidos, é como que o culminar de uma vida de intenso estudo, trabalho e aperfeiçoamento, em cada indivíduo, e no todo que é a sociedade. Ela, a cultura, integra em si todo um património construído, com um determinado simbolismo, e uma finalidade premeditada, a que se junta a beleza do património natural. Interpretar e usufruir um tal património é função superior do ser humano culto.

Tem sido hábito valorizar-se muito a cultura no seu sentido elitista, isto é, aquela cultura que é possível adquirir ao longo da vida, precisamente pelo maior ou menor poder económico do cidadão, e que se avalia pelo grau académico, pelo domínio de idiomas, pela quantidade de viagens, pelos cargos que se ocupa e pela influência que se exerce. A cultura, no seu conceito antropológico é diferente, porquanto valoriza mais o indivíduo natural, espontâneo, no seu meio e nos seus afazeres quotidianos, obviamente, sem descurar toda a evolução, para o bem e para o mal, que pela ciência, pela técnica e pelo pensamento tem vindo a registar.

Recordados dois dos sentidos da cultura – elitista e antropológico -, importa refletir sobre a cultura genericamente considerada, na perspectiva da valorização do ser humano e na resolução dos diversos problemas que, ao longo da vida, vai enfrentando e resolvendo, com maior ou menor sucesso. Neste sentido: interessa frisar a importância de cada cidadão; interiorizar as culturas que social e profissionalmente devem conduzir a sua vida. Trata-se de um processo que envolve disciplina, rigor, respeito e responsabilidade, entre outros atributos.

Esta noção de cultura para a vida, e ao longo da vida, é essencial para o sucesso da pessoa e da sociedade, onde ela se insere e da qual faz parte. Na verdade, não será suficiente, apenas, uma cultura elitista ou antropológica, embora devam ser consideradas em contextos adequados. A cultura para a vida implica uma educação e formação permanentes, na família, na escola, na política, na cidadania, na Igreja, no trabalho, na sociedade.

Também aqui, no exercício da cultura, se deve ser competente, tal como noutras dimensões da vida humana, e como se tem vindo a referir noutros trabalhos. Neste âmbito, pode-se concordar que: «O desenvolvimento da cultura da competência poderá ser favorecido pelos movimentos de melhoria da qualidade e produtividade em andamento, porque todos estão direcionados para resultados. Desenvolver cultura – importa insistir – é um processo educativo e de desenvolvimento organizacional e comportamental demorado que requer convicção e determinação.» (RESENDE, 2000:147).

Hoje em dia, primeiro quarto do século XXI, pensa-se pouco nestes valores, aliás, parece existir uma certa preguiça mental em se utilizar o pensamento, porque as pessoas, na sua grande maioria, a começar pelos jovens, preferem recorrer ao “pronto a consumir”, quantas vezes sem lerem, sequer, as instruções, ingredientes e efeitos secundários de um dado manual ou produto.

 Verifica-se, frequentemente, este comportamento nos jovens escolares. A que se deve este fenómeno? Parece não estarem, ainda, suficientemente estudadas as suas causas mais profundas, mas acredita-se que, em parte, a motivação tenha sido prejudicada por outros recursos técnicos e, eventualmente, mais atraentes. Vive-se, portanto, uma nova cultura, um novo paradigma que, perigosamente, pode aproximar-se de um dogma, o que talvez venha a provocar danos irreparáveis, nas futuras gerações.

Bibliografia

HOEBEL E. Adamson e FROST, Everett L. (1995) Antropologia Cultural e Social, Tradução, Euclides Carneiro da Silva, 10ª Edição, São Paulo: Cultrix.

RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark